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Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
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Poema: Alberto Caeiro. Antes o voo da ave, XLIII.
Arte: Andrew Wyeth. Turkey Pond, 1944.
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