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Da primeira febre de amor ao seu flagelo, da segunda,
Mais branda, ao desértico instante do útero,
De seu desdobramento ao umbigo cortado,
Ao tempo do seio e à época feliz do avental,
Quando nenhuma boca se contorcia por não ter o que comer,
O mundo inteiro era um só, um nada tempestuoso;
Meu mundo fora batizado num córrego de leite.
A Terra e o céu eram como uma colina flutuante,
E o sol e a lua derramavam sua luz imaculada.
Da primeira impressão deixada pelos pés descalços,
Da mão que se levanta, do aparecimento dos pêlos,
Ao milagre da primeira palavra afinal articulada,
Do primeiro segredo do coração, o fantasma que adverte,
À primeira ferida silenciosa na carne,
O sol era vermelho, a luz acinzentada,
E a Terra e o céu como duas montanhas enlaçadas.
O corpo progredia, os dentes irrompiam das gengivas,
Os ossos se desenvolviam, ouvia-se o rumor do sêmen
Dentro da glândula sagrada, o sangue abençoava o coração,
E os quatro ventos, que sopravam como um só,
Irradiavam a luz do som em meus ouvidos,
Despertando os meus olhos para o som da luz.
E amarela era a areia que se multiplicava,
Cada grão dourado dava vida ao que lhe estava ao lado
Verde era a casa que cantava.
A ameixa colhida por minha mãe amadureceu lentamente,
O menino que ela fizera emergir das trevas
Crescia forte ao seu lado no regaço da luz.
Era musculoso, carnudo, atento às coxas que gemiam
E à voz que, como a voz da fome,
Comichava no rumor do vento e do sol.
E aprendi, com a primeira fraqueza da carne,
A linguagem do homem, a retorcer as formas do pensamento
No pedregoso idioma do cérebro, a obscurecer
E novamente urdir a trama das palavras
Legadas pelo morto que, em seu alqueire sem luar,
Não carecia de nenhum calor verbal.
A raiz das línguas se extingue num câncer estiolado,
Que é apenas um nome sobre o qual os vermes fazem um xis.
Aprendi os verbos da vontade, e tinha um segredo;
O código da noite se imprimira em minha língua;
O que fora um só eram muitos a ecoar no espírito.
Um só útero, um só espírito, expeliram a matéria,
Um único seio amamentou o fruto da febre;
Conheci a outra face do céu que se divorcia,
O planeta bilobado que girava em uma órbita;
Milhões de espíritos nutriam uma semente,
Como aquela que bifurca o meu olhar;
A juventude se abreviava, as lágrimas da primavera
Se dissolviam no verão e em centenas de estações;
Um único sol, um só maná, aqueciam e alimentavam.
Dylan Thomas
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quinta-feira, 12 de agosto de 2010
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15 comentários:
Léo Queridooooooo,
Ë a nossa metamorfose do existir.
E é tão confortante saber que confabulamos com pensamentos e devaneios semelhantes e sempre intrigantes.
Amei....
Lindo de doer...
Beijãoooooo
ALe
Intenso, como o amor, como a vida.
Saudade de ti, gurizinho.
Beijo :)
Profundo como os abismos que o amor nos leva e os que ele nos resgata.
Beijo doce, menino lindo!
Adorei!!
Já tentei refletir nesse sentido: "Ela era minha extensão, só minha e pronto, não precisava de mais nada e de mais ninguém, e eu acreditava que o mundo era completo, e na verdade era mesmo para uma pequena criança insatisfeita que só queria mamar"!
Concordo com a Pérola... o amor é uma relação abismal!
Beijo!
Leo, amadooooooooooooooo.
Coisa mais lindaaaaaaaaaaa de texto...falar o que meu Deusssssss..
É só de se emocionar, e anestesiar a alma!
Te abraçooooooooo forte, assim, de quebrar costelas rs.
Leo querido
Lindo poema, fiquei emocionada.
"A juventude se abreviava, as lágrimas da primavera
Se dissolviam no verão e em centenas de estações;
Um único sol, um só maná, aqueciam e alimentavam".
É de uma profundidade única.
Beijo
Denise
Meu querido,
Fantástico o texto.
As primeiras sensações são sempre intensas e inesquecíveis.
Beijos meu!
Leuolito!
Nem tem mto o que comentar, adorei!
amotu.
Aprendi os verbos da vontade, e tinha um segredo;
O código da noite se imprimira em minha língua;
O que fora um só eram muitos a ecoar no espírito.
Léo eu AMEI essa parte,
você sempre com muto bom gosto por aqui,
beijos querido!
único.
assim como corpo e alma.
seguindo-te.
forte heim!
bjusssss
Nooossa.. É tudo muito verídico e perfeito...
"E aprendi, com a primeira fraqueza da carne,
A linguagem do homem, a retorcer as formas do pensamento"
Ameeeeeeeei!
Beijiinhos Leo *-*
'A linguagem do homem, a retorcer as formas do pensamento'
Ameeii!
E que você tenha um lindo domingo.
beijooos, Leo querido!
:*
Oi sou sua seguidora adorei seu blog esse texto, nossa que profundo...♥
"Viver sem ser amado é como cortar a asas de um pássaro e tirar sua capacidade de voar"
...beijinhos Leo
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