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Porque te tenho e não
porque te penso
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e digo amor
porque vieste a recolher a tua imagem
porque és melhor que todas as tuas imagens
porque és linda desde o pé até a alma
porque és boa desde a alma a mim
porque te escondes doce no orgulho
pequena e doce
coração couraça
porque és minha
porque te olho e morro
se não te olho amor
se não te olho
porque tu sempre existes onde quer que seja
porém existes melhor onde te quero
porque tua boca é sangue
e tens frio
tenho que te amar amor
tenho que te amar
ainda que esta ferida doa como dois
ainda que busque e não te encontre
e ainda que
a noite pese e eu te tenha
e não
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Arte: Marc Chagall. O sonho de Paris, 1969.
Texto: Mário Benedetti. Coração couraça.
Texto: Mário Benedetti. Coração couraça.
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26 comentários:
O apaixonante poema decorado nesta estante é de Mário Benedetti, poeta e escritor uruguaio que na ampla carreira reuniu mais de 80 obras literárias, dentre elas, poesias, contos, romances e ensaios. Muito escreveu e pouco ficou conhecido no Brasil, por isso aqui estamos para relembrar os traços poéticos daquele que foi e ainda é o poeta do povo uruguaio, o qual defendeu incessantemente nas entrelinhas ficcionais dos seus personagens, verdade dita na simplicidade das metáforas nuas. Pois bem, esse era o marxista latino-periférico, pai dos humilhados pelos sapatos de ferro do Norte, condenados do Sul.
Integrou a Geração de 45, e juntamente com demais escritores, iniciou uma reação contra à demanda estético-literária fundada pela elite europeia, marginalizando o paradigma do correto que os sul-americanos reproduziam apenas, sem criar nenhuma perspectiva cultural e pensante, ou seja, sobrevivendo do Norte. Sem nenhum norte.
Mário Benedetti tinha consciência da herança europeia, logo, usou a sua influência com o mundo armado das palavras, a fim de redimensionar os modelos considerados superiores a uma adaptação a partir da contextualização, transformando ficções em biografias talhadas sem rosto de alguém, mistura do fragmento da sociedade operária comandada pelo fordismo espancador disfarçado de herói, e todos esses "ismos" que vieram para enganar com lábia de sofista.
Foi por ser contestador e honesto ao seu dever de cidadão, que Benedetti foi exilado em vários países, como Cuba e Espanha, pela ditadura a qual dominou o país por completo. Seu crime? Ser democrático. Falar demais tem seu preço no mundo dos homens. É preciso "ordem" sempre.
Quanto às características de sua poética, o autor divide-se em duas fases, ambas abordando temas críticos e interiorizados, mas cada um oferecendo uma problemática do ser humano. A primeira denomina-se "oficinesca", pois é calcada na obra que o deixou famoso, sob o título de "Poemas de Oficina", em 1956. Foi um tempo de mostrar não só no governo, mas na particularidade do homem, aquilo que é artificial e sustentado por bases frágeis, como o ar cinzento revestido de incolor, caminhando pelas ruas aglomeradas da cidade sem pulmões. Já na segunda fase, há um amadurecimento reflexivo desenvolvido nos seus romances, devido ao fator do "desexílio" do escritor, que de volta à pátria depois de 12 anos, em 1985, começou a reconhecer-se novamente como pessoa, recuperando a identidade física e emocional, perdida pelo desfalque feito no passado distante, que no retorno assombra-o com a sensação de ser peregrino na geografia do próprio lar uruguaio, e nos olhos estranhos vistos no espelho sem memória. Uruguai havia mudado e não estava melhor do que antes, ao contrário, deixou-se iludir por uma falsa democracia e por um júbilo que nunca existiu. Era um exílio de grades invisíveis, onde a sociedade proletarizada aprendeu a gostar do substantivo conformismo, de acordo com o que Benedetti deixou escrito em vários livros, principalmente na obra "A Borra do Café".
No poema "Coração couraça", retrata o seu lado sentimentalista, mas sem ser piegas dotado de uma naturalidade sem rebuscamentos que nos seduz e emociona. Um poeta que vivia no amor a veracidade de sua poesia instintivamente emana sentimento dos poros do tinteiro, emana Luz do coração. Luz, sua eterna amada esposa, cantada nos momentos de solidão, que quando se foi levou a alma do poeta num exílio repousante e sem-fim. Apenas sim, sem mais não. Que lá no céu de corações exilados, possam encontrar Chagall e Bella voando dentre as nuvens da liberdade, e enfim, formar com as mãos dadas, a ciranda de poder pertencer. E sim. Apenas sim.
Por Fernanda Curcio.
Bom dia!
Encantada com o seu poema,você usou da anáfora para compor este belo poema.
Coisa boa de ser ler numa madrugada de segunda-feira.
Grande abraço
se cuida
DI VI NO!
<3
"Tenho q te amar...
Ainda q te busque e não te encontre"... =)
lindo dia, Leo!
bjo
Uma das análises que mais amei fazer.A forma como Benedetti empenhou-se para o seu país é emocionante.Um homem que não teve as palavras exiladas.
É profundo, é delicado, é singelo, é intenso...
Encanta-me suas escolhas....
Sinto cheiro de amor... de delicadezas...
bjs, querido, boa semana!
Curto e muito as letras de Benedetti. A Trégua é o meu livro predileto.
Para dar mãos ao poema que aqui você postou, deixo um fragmento de Miragem - V. de Moares:
"...
Tu és a agonia de todas as posses
És o frio de toda a nudez
E vã será toda a tentativa de me libertar da tua lembrança.
..."
Um grande abraço. Me é bom voltar aqui.
Escrever é a arte de algunn que conseguem colocar em letras o amor.
Muito lindo.
http://somdospassos.blogspot.com/
Muito lindo...me tocou completamente.
Bjo no coração.
Um encanto de poema!
Beijos
'e basta fechar os olhos, para ter VC, de novo, mais perto de mim'
Doce Leo, teu post me trouxe saudades mil!
Intensa a vontade do ter.
Romântico,poético,focado:
- Apaixonado...
Belíssimo,Mário Benedetti.
E preciosa análise,Leo.
P.S: Estou bem...
Obrigada pelo comentário,sempre tão gentil.
Beijos!
Obrigada pela visita! Concordo plenamente. ;)
Senti todo o amor e possessão neste poema.. Profundo.
Saudades Léo!! =**
Leo amado amigo, que saudades tuas!
Desculpa a ausência, estou em Manaus agora.
Vir aqui é sempre um presente lindo que me dou sabia?Amei o poema é tão lindo...
Sinto saudades de ler grandes escritores, ando trabalhando e estudando muito, sem quase nada para relaxar aff!
Beijão amdo, se cuida.
A analogia que fiz dos dois artistas lembra-nos que amores verdadeiros existem, e que quando vividos, são tufões que desafiam o mundo dos homens, organizado e previsível.O amor nos exila com correntes de flores.
Muito legal teu blog, encontrei poesias belissimas, voltarei mais vezes já estou seguindo. também escrevo uns versos te convido a vir conhecer o meu blog http://joselito-expressoesdaalma.blogspot.com, se gostar segue lá... ficarei feliz com sua visita!!! Abraços e Parabéns pelo lindo espaço!
Leo, que bom te ter de volta!
Que poema mais lindo, arrebatador.
Suas escolhas são incríveis.
beijos
Pus um selo no seu blogue: um prémio: foi-me oferecido e ofereço-o por minha vez aos blogues de que gosto.
Gosto da sua poesia.
Pode ir “retirá-lo” quando quiser.
Abraço
fiquei maravilhada... nao conhecia... amei...
um lindo fds pra vc... beijos
A amizade quando é sincera, o esquecimento é impossível. A confiança, tal como a arte, não deriva de termos resposta para tudo, mas, de estarmos abertos a todas as perguntas. Desta forma , onde quer que vc esteja, nunca te esquecerei!! amo teu blog, bjos de bom domingo de uma amiga!
o amor ultrapassa qualquer barreira
Leo, confesso que a análise me impressionou muito mais que o poema! Parabéns à Fernanda Curcio!
Um abraço.
Leozinho,
É sempre doce estar aqui e compartilhar a escolha dos poemas que você faz para falar de amor.
Beijos
Denise
"porque és lindo desde o pé até a alma"
menino dono dos encantos, lindo!
Saudadesss!
Beijos
Oi,
Amei o teu blog, por isso estou seguindo!
Acabei de iniciar um blog também e se quiser pode visitar-me!
Espero que goste
Beijos
Clarice B.
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