Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol...


sábado, 28 de maio de 2011

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Ela teimou e enfrentou
O mundo
Se rodopiando ao som
Dos bandolins...

Como fosse um lar
Seu corpo a valsa triste
Iluminava e a noite
Caminhava assim

E como um par
O vento e a madrugada
Iluminavam a fada
Do meu botequim...




Valsando como valsa
Uma criança
Que entra na roda
A noite tá no fim

Ela valsando
Só na madrugada
Se julgando amada
Ao som dos Bandolins...

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Letra: Oswaldo Montenegro, Bandolins.
Arte: Pablo Picasso, Three Dancers, 1925.

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sábado, 21 de maio de 2011

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Entre tantos
loucos e livres
existe um
que é doce
e que me falta.

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Poema: Alice Ruiz
Arte: Henri Matisse, Woman Beside Water, 1905.

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domingo, 15 de maio de 2011

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O Amor toma banho de sol nos olhos dela,
O Amor percorre as meadas de suas madeixas,
O Amor se perde em cada um dos lábios dela
E mil beijos ali colhe e a li deixa;
Em cada parte dela, visível o Amor;
Mas, ah! não penetra o seu interior.

Lá dentro habitam os inimigos do Amor,
A malícia, a inconstância, a altiveza.
Assim a face da terra se enfeita em flor,
Em verdes vários e em tanta beleza,
Mas lá dentro estão o inferno e a escuridão,
Lá vivem os espíritos maus em danação.





Pois comigo, ai de mim, acontece o contrário:
A morte e a treva jazem em meus olhos em pranto,
Meu rosto pálido, em desespero, solitário,
É justamente o oposto do Amor, no entanto,
Ele, dentro de mim, como o tirano persa,
Mantém alta corte invisível, pois imersa.

Oh! toma meu coração, e então ficará
Teu íntimo com bom suprimento de amor,
E dá-me o teu, que está alegria tornará
Todo amorável meu eu exterior.
Mas que troca! Eu, revestido de feminina
Graça, e tu, interiormente, masculina.

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Poema: Abraham Cowley, A Troca.
Arte: Lasar Segall, Encontro, 1924.

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domingo, 8 de maio de 2011

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Sem fazer barulho abri a janela e sentei-me na cama, não ousava me mexer com medo que me ouvissem lá embaixo, lá fora às coisas também pareciam congeladas, paralisadas num propósito mútuo.



Nunca mais esses momentos serão possíveis para mim, mas ultimamente tenho sido muito hábil para captar, se ouvir com atenção, o som dos soluços que romperam quando me encontrei sozinho com mamãe, na realidade seu eco nunca cessou.

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Texto: Marcel Proust, Em busca do tempo perdido.
Arte: Edvard Munch, A mãe morta e a criança, 1900.

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segunda-feira, 2 de maio de 2011

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Embora eu tenha de partir, eu te asseguro
Que em nossas almas não haverá separação.
Elas são uma, e, assim como bloco de ouro
Que é distendido em folha, juntas ficarão.

Ou se elas são duas, serão duas apenas
Como duas, as hastes gêmeas de um compasso:
Tu és a haste fixa, mas moves-te em verdade
Todas as vezes que a outra alma avança um passo.



E, enquanto a outra lá bem longe circunvaga,
Essa em seu centro, p'ra ela inclina-se depressa,
Solícita; e só se ergue de novo ereta
Quando a outra haste de sua viagem regressa.

Assim és tu p'ra mim, que, como haste oblíqua,
Obliquamente vago distante de ti;
Tua permanência faz perfeitos meus circuitos
E ajuda-me a voltar ao ponto de que parti.

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Poema: John Donne, A valediction: forbidding mourning.
Arte: Marc Chagall, Le Coq sur Paris.

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