Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol...


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

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Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.


A recordação é uma traição à natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

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Poema: Alberto Caeiro. Antes o voo da ave, XLIII.
Arte: Andrew Wyeth. Turkey Pond, 1944.

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domingo, 6 de novembro de 2011

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Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.



Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda.

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Poema: Ana Cristina César.
Arte: Toulouse Lautrec. Loie Fuller 1892.

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