Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol...


domingo, 6 de outubro de 2013

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O mais profundo é a pele...

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Arte: René Magritte.
Texto: Paul Valery.

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sexta-feira, 2 de agosto de 2013






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Se lembrar fosse esquecer
Então não me lembro não;
E se esquecer fosse lembrar
 - Estive tão perto de esquecer!

















E se desaparecer fosse alegre
E o luto fosse feliz
Quão descuidados os dedos
 - Que os juntaram de vez.

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Arte: Edgar Degas. Melancolia, 1874.
Poema: Emily Dickinson.

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segunda-feira, 24 de junho de 2013



















Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! traze tinta encarnada para escrever estas coisas! tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata  as tuas mãos às minhas e da um nó cego muito apertado! eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

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Poema: Almada Negreiros. A invenção do dia claro, 1921.
Arte: Gustav Klimt. Mãe e filho, 1905.

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sábado, 11 de maio de 2013


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Entrelaçados à janela, olham-nos da rua:
Já é tempo de saber!


Tempo da pedra dispor-se a florescer, 
de um coração palpitar pelo inquieto,
É tempo de ser....é tempo!

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Trecho: Paul Celan. Corona.
Arte: Pablo Picasso. Os amantes, 1923.

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sexta-feira, 29 de março de 2013





Como chama você às florzinhas azuis que eu quis colher
à margem do ribeiro?





















 - Que são da cor do céu!

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Trecho: André Gide. Sinfonia Pastoral.
Arte: René Magritte.

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

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Porque não mais espero retornar
Porque não espero
Porque não espero retornar
A este invejando-lhe o dom e àquele o seu projeto
Não mais me empenho no empenho de tais coisas
(Por que abriria a velha águia suas asas?)
Por que lamentaria eu, afinal,
O esvaído poder do reino trivial?

Porque não mais espero conhecer
A vacilante glória da hora positiva
Porque não penso mais
Porque sei que nada saberei
Do único poder fugaz e verdadeiro
Porque não posso beber
Lá, onde as árvores florescem e as fontes rumorejam
Pois lá nada retorna à sua forma

Porque sei que o tempo é sempre o tempo
E que o espaço é sempre o espaço apenas
E que o real somente o é dentro de um tempo
E apenas para o espaço que o contém
Alegro-me de serem as coisas o que são
E renuncio à face abençoada
E renuncio à voz
Porque esperar não posso mais
E assim me alegro, por ter de alguma coisa edificar
De que me possa depois rejubilar






















E rogo a Deus que de nós se compadeça
E rogo a Deus porque esquecer desejo
Estas coisas que comigo por demais discuto
Por demais explico
Porque não mais espero retornar
Que estas palavras afinal respondam
Por tudo o que doi feito e que refeito não será
E que a sentença por demais não pese sobre nós

Porque estas asas de voar já se esqueceram
E no ar apenas são andrajos que se arqueiam
No ar agora cabalmente exíguo e seco
Mais exíguo e mais seco que o desejo
Ensinai-nos o desvelo e o menosprezo
Ensinai-nos a estar postos em sossego.

Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte
Rogai por nós agora e na hora de nossa morte.

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Poema: T.S.Eliot. Quarta-Feira de Cinzas, parte 1.
Arte: Andrew Wyeth. De volta, 1984

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domingo, 27 de janeiro de 2013






















Então para os outros sou aquele estranho que surpreendi no espelho:
Sou ele e não eu, tal como me conheço! Sou aquele estranho que, à
primeira vista, não reconheci. Aquele estranho que não posso ver viver a não ser assim, num instante inesperado. Um estranho que só os outros podem ver e conhecer.

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Trecho:  Luigi Pirandello.
Arte: Maya Kulenovic, vidro.

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