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Gota
a gota
tomba o silêncio.
Condensa-se no telhado da mente
e cai por tanques de água abaixo.
Para sempre sozinho...
sozinho...
sozinho.
Gota
a gota
tomba o silêncio.
Condensa-se no telhado da mente
e cai por tanques de água abaixo.
Para sempre sozinho...
sozinho...
sozinho.

ouço o silêncio tombar e espalhar seus
círculos até os mais longínquos recantos.
Saciado e repleto, sólido na satisfação da meia-noite,
eu
a quem a solidão destrói
deixo que o silêncio tombe
gota a
gota.
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Excerto: Virgínia Woolf. As ondas, 1931.
Arte: Frank Benson. Dia de chuva, 1906.
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28 comentários:
O trecho acima é do livro intitulado "As Ondas", cuja autoria é de uma das romancistas mais aclamadas do século XX: Virgínia Woolf, também conhecida como a Proust de saias, por ter uma escrita literária diferenciada e elegante, cheia de técnicas e rebuscamentos, da mesma forma que o escritor francês nos escrevinhou. A escritora, que nasceu numa família da alta sociedade, já abrigou desde o berço a literatura no sangue, pelo fato de ser filha de Leslie Stephen, autor e crítico inglês, responsável por trazer ao cotidiano de Virgínia os mais célebres escritores da época e a despontar na menina prodígio "Gínia", como era chamada, o talento único de dar voz aos seus personagens, sempre pensantes e psicológicos.
Quando falamos em Virgínia Woolf, dificilmente conseguimos separar a escritora da mulher, os personagens conturbados da vida inconstante e depressiva da inglesa, pois mesmo que ela não tivesse o intuito de ser autobiográfico - o que de fato não tinha - sempre transcrevia para os livros seus pensamentos traçados dualmente entre a superfície do consciente e o inconsciente delirante de suas crises psíquicas. Mas obviamente que as pistas para encontrá-la nas entrelinhas não são fáceis, como escolher um caminho a seguir no centro de uma encruzilhada sombria, por entre a musicalidade metafórica da poesia a enfeitiçar o leitor com olhares sedutores em cada esquina da linha sinuosa e trêmula das mãos odaliscas.
Quanto ao seguimento literário, participou ativamente do famoso "Grupo de Bloomsbury", bairro de Londres em que foi morar depois da morte do pai, onde residiam alguns artistas famosos, que como ela, remavam contra a maré, ou seja, eram ativistas revolucionários que não seguiam padrões vigentes, numa época em que ascendia o totalitarismo e a iminência da 2ª Guerra Mundial, um dos motivos responsáveis para o campo de batalha que se tornou a árdua existência da escritora, que hasteou a bandeira branca para si mesma, inimiga trincada no próprio ser, tantas vezes domada no alicerce das palavras, analgésico e anestésico para estagnar as veias saltadas da loucura. Antirrealista literária, ultrarromântica escapista rumo as ondas afogantes, colecionadoras de vida.
A autora também é vista no campo do estudo das letras como escrita complexa e de entendimento pluralista, tendo quem a lê, a capacidade de romper com a fixidez das leituras tradicionais e entrar em contato com os deuses da epifania desligados do espaço-tempo. Digo isto, pois a característica mais significante de suas obras é o "fluxo de consciência", técnica usada em que se emaranham passado e presente na mesma história, sem a cronologia linear dos fatos ocorridos. O que predomina não é a ação do personagem, mas sim um monólogo interior que nos mostra através do "fluxo" do pensamento, a representação impressionista das imagens da mente, tais como surgiram em cada instante, sendo por vezes desarticulada e desconexa, tal como é nosso processo mental.
Gota a gota, atraída pelo rio Ouse, Virgínia termina o ciclo iniciado pela unidade aquática, permeável e invasora, princípio e fim da vida. Elemento idolatrado em toda a sua poética, seja na infância lembrada com saudade nos braços de St.Ives, lugar onde o mar recitava-lhe versos nos primeiros bocejos da manhã, seja no rio Ouse, leito de enxurradas onde fez descansar as inquietações das horas arrastadas, deixando "que o silêncio tombe gota a gota".
Por: Fernanda Curcio.
se tem que tombar , se assim é melhor então que tombe agora e depois faça renascer sem tombos , sem dores , sem solidão , sem vazios , mas sim espaços preenchidos .
Bjo Léo
Oi Leo!
Eu acho fantástico qdo isso acontece(e olha q isso é tão raro):
A primeira leitura do dia, acabo de fazer aqui. E me identifiquei de imediato... De forma especial, cm quem se vê num espelho.
Lindo lindo!
bjo ensolarado p/ti!
=)
O que seriam essas gotas? Gotas que deixamos cair... ou gostas que caem sem a gente deixar?!!! kkkk
Lindo!
Beijos
Camila Márcia
@camila_marcia
http://delivroemlivro.blogspot.com/
http://devaneiosfugazes.blogspot.com/
Maravilhoso.
Devo confessar que sou um leigo para escritoras clássicas, me atenho mais aos contemporâneos. Mas depois de ler isso, impossível não dizer que, apesar de ser uma poetisa do século XX, Virgínia consegue ser contemporânea até a última gota. Gosto do começo tímido e da ascensão. Da curva e da queda. Gosto muito da solitude.
Um beijo.
Foi mágico para mim falar sobre Virgínia Woolf.Identifico-me com ela, tanto literariamente como a forma a qual ela olhava para o mundo e as pessoas, estranhando-os pelo fato de acharem-se normais.
Fernanda
É tanto silêncio que dá até pra ouvir as pequenas gotas tombando no chão. Não me atrevo a descrever esses versos. É tanto.
Bjs
Amoooooooooooo Virgínia... Surpresa maravilhosa ler esse texto aki...
Beijo enorme e desculpe a ausência...
P.S. quando tiver um tempinho visite um projeto que estou desenvolvendo com uma amiga... o http://www.diferentedagente.blogspot.com/
Ficaremos agradecidas. Beijo
Leo, que coisa mais linda e li na hora que mais preciso.
Bjo no coração.
adorei seu blog muito lindo...segue o meu se puder:voando-em-sonhos.blogspot.com...espero sua visita...abraços....
Fenomenal esses detalhes!
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Me a-pai-xo-nei pelo blog. Deu pra perceber o quanto gosta do Pequeno Príncipe, acho que temos algo em comum!
;*
Muito lindo Léo!
Saudades =)
Uma das solidões duramente vivida por Virgínia.
Perfeita combinação da arte,Leo!
Beijos!
Parece chuva, vou pensar assim quando chove.
Beijo querido, obrigado por me visitar, ja estava ficando estranho la no meu cantinho (risos)
Como se fosse alguém só, ou será que prefere assim?
Muito interessante!
(Saudade de você)
(O blog "Minha Parte Oculta" passou por uma fase de mudanças, passa lá, Léo)
Leo...
Ainda teus posts me alimentam. Seja onde for...
Lindo o blog.
Gostaria de saber por onde anda a tua arte! Um abraço enluarado...
Maria (Lud)
Leo, querido amigo.
Vim matar minha saudade.
E esse texto tão intenso e sol, me aqueceu aqui.
Beijinho
Olá,
Criei um blog recentemente e visitando o mundo da blogosfera encontrei teu espaço. Adorei teu blog, por isso sigo-te. Convido vc a visitar meu espaço, espero que goste.
Abç
Leozinho,
Eu ando tão sem tempo de visitar os amigos, me perdoa. Eu fico sempre com o coração mais doce quando passo por aqui.
Um beijo
Denise
OBRIGADA PELOS COMENTÁRIOS INICIAIS.
PARABÉNS PELO POST!
ABRAÇÃO
JAN
Nunca li nada da autora, mas depois desse excerto fiquei querendo mais... é bem o estilo que gosto.
Grata pela partilha.
Um beijo.
Acho muito legal você explicar os textos depois da postagem.
Beijos
Bonito isso.. *_*
Boa tarde Leo.
Demorei... mas consegui volver ao seu blog.
Bom encontrar as àguas - gotas, ondas - dos textos de V. por aqui.
Meu abraço: com paz.
Incrível esse poema,
Lia, e cá dentro de mim, ouvia barulho de gotas,
Delicadas,
Sensíveis,
Pequenas,
Cristalinas,
Linda escolha Leo,
Bjkas
Que bom ler um poema como esse. maravilhoso. Escolheste maravilhosamente. Adorei conhecer o blog, voltarei mais vezes. Sua presença sera bem vinda no meu blog, convido a visitar-me.
Um abraço!
Belíssima escolha, Leo.
Maravilha.
Bjs
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