Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol...


quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

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Para cruzá-la ou não cruzá-la
eis a ponte

na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um pais

trago comigo oferendas desusadas
entre elas um guarda-chuva de umbigo de madeira
um livro com os pânicos em branco
e um violão que não sei abraçar

venho com as faces da insônia
os lenços do mar e das pazes
os tímidos cartazes da dor
as liturgias do beijo e da sombra

nunca trouxe tanta coisa
nunca vim com tão pouco

eis a ponte
para cruzá-la ou não cruzá-la
e eu vou cruzar
sem prevenções

na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país

Poema: Mário Benedetti

Cruzemos as pontes em 2011!

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

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- Se ser neurótica é querer duas coisas ao mesmo tempo, então sou completamente neurótica.
Vou ficar voando de uma coisa para outra pelo resto da vida.

- Deixe que eu voe ao seu lado.

Texto: Sylvia Plath
Arte: Marc Chagall

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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

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Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para meu sonho naufragar.



Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.

Poema: Cecília Meireles
Arte: Jasper Johns

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Dedico esta postagem à todos os meus amigos e amigas
que por aqui passam, seguem, acompanham, comentam,
vocês são especiais e colorem minhas areias desertas.

Feliz Natal!

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

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Eu vou te dar alegria
eu vou parar de chorar
eu vou raiar um novo dia



Eu vou sair do fundo do mar
eu vou sair da beira do abismo
e dançar e dançar e dançar.

Poema: Arnaldo Antunes
Arte: Johanna Harmon

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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

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Meu único e nobre coração tem testemunhas
Que despertarão tateantes em todos os países do amor;



E quando o sono cego gotejar sobre os sentidos em vigília,
O coração será sensual, ainda que cinco olhos se quebrem.

Poema: Dylan Thomas
Arte: Gustav Klimt

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

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Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão.



E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim.

Poema: Chico Buarque
Arte: Jorge Luis Alio

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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

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Grito, fruto obscuro
e extremo dessa árvore: galo.



Mas que, fora dele,
é mero complemento de auroras.

Poema: Ferreira Gullar
Arte: Aldemir Martins

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Quando tomamos consciência de nosso papel, mesmo

o mais obscuro, só então somos felizes. Só então podemos

viver em paz e morrer em paz, pois o que da um sentido

à vida dá um sentido à morte.

(Saint Exupéry)

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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

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Talvez eu esteja cansado de vagar em meus caminhos
Por tantas terras cheias de cavernas e colinas,
Eu vou encontrar o lugar para onde ela se foi,
E beijar seus lábios e segurar suas mãos;



Caminharemos entre coloridas folhagens,
E ficaremos juntos até o tempo do fim do tempo, colhendo
As prateadas maçãs da lua,
As douradas maçãs do sol.

Poema: Willian Butler Yeats
Arte: Auguste Pierre Cot

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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

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Sente-se diante da vitrola
E esqueça-se das vicissitudes da vida.



Na dura labuta de todos os dias
Não deve ninguém que se preze
Descuidar dos prazeres da alma.

Poema: Oswald de Andrade
Arte: Auguste Renoir

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sábado, 27 de novembro de 2010

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A constância é contrária à natureza, contrária à vida.



As únicas pessoas completamente constantes são os mortos.

Texto: Aldous Huxley
Arte: Henri Matisse

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terça-feira, 23 de novembro de 2010

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Se todos os rios são doces, de onde o mar tira o sal?
Como sabem as estações do ano que devem trocar de camisa?
Por que são tão lentas no inverno e tão agitadas depois?
E como as raízes sabem que devem alçar-se até a luz e saudar o ar com tantas flores e cores?
É sempre a mesma primavera que repete seu papel?
E o outono?... ele chega legalmente ou é uma estação clandestina?

Pablo Neruda

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sábado, 20 de novembro de 2010

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Morri antes da hora de ir para a cama,
Mas o meu ventre então bramia,
E senti na nudez de minha queda
Uma cabeça rubra e áspera que emergia flamejante
E o amado dilúvio de seus cabelos.

Poema: Dylan Thomas
Arte: Eugene Delacroix

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domingo, 14 de novembro de 2010

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A sede se extinguiu, a fome já se foi,
E de lado a lado se rompeu o meu coração;
Meu rosto no espelho está desfigurado,
Meus lábios murcharam sufocados pelos beijos,
Meus peitos se tornaram quase ossadas.



Uma jovem alegre me tomou por homem,
Fiz com que se deitasse para contar-lhe o seu segredo
E ao seu lado depus uma rosa escarlate.

Poema: Dylan Thomas
Arte: Marc Chagall

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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

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Abrindo um antigo caderno
foi que descobri
antigamente eu era eterno.

Poema: Paulo Leminski
Fotografia: David Wall

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terça-feira, 9 de novembro de 2010

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Em algum lugar
Sob a pálida luz da lua
Alguém está pensando em mim
E me amando nesta noite

Em algum lugar
Alguém faz uma prece
Para que nos encontremos
E nos alcancemos em algum lugar

E mesmo que eu saiba, da distância que nos separa
Ajuda pensar que podemos estar fazendo pedidos, a mesma estrela brilhante
E quando o vento da noite começa a cantar, uma cantiga de solidão
Ajudará a pensar que estamos dormindo, debaixo do mesmo e enorme céu

Em algum lugar
Se o amor nos ajudar
Então vamos estar juntos
Em algum lugar
Aonde os sonhos, são reais

Letra: Cynthia Weil
Imagem: Retirada do google

À moça do coração tão grande, dona do bolo verde.

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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

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Escravizo o silêncio
e faço dele o meu mensageiro.



Estou presente em tudo ou mais
e aí onde me procurarem
será a minha próxima ausência.

Poema: Hélder Muteia
Arte: Marc Chagall

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terça-feira, 2 de novembro de 2010

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Sem me falar
Sem me olhar
Levantou-se
Pôs
o chapéu na cabeça
Vestiu
a capa de chuva
porque chovia
E saiu



Debaixo de chuva
Sem uma palavra
Sem me olhar
Quanto a mim pus
a cabeça entre as mãos
E chorei.

Poema: Jacques Prévert
Arte: Egon Echiele

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

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Crepúsculo e morte. Morte e beijos.
Beijos dos quais resultam nascimentos.




Consequentemente, morte para outra geração
de observadores de crepúsculos.

Texto: Aldous Huxley
Arte: René Magritte

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Conheci um velho jardineiro que a toda hora me falava num amigo dele. Os dois tinham vivido durante muito tempo como irmãos, antes que a vida os separasse. Tinham bebido juntos o chá da tarde, tinham celebrado as mesmas festas, tinham-se procurado um ao outro para pedirem alguns conselhos ou fazerem confidências. Que, bem vistas as coisas, um pouco tinham a dizer. Até os viam passear, depois de acabado o trabalho, sem pronunciarem uma só palavra. Limitava-se a olhar as flores, os jardins, o céu e as árvores. Mas, se um deles meneava a cabeça e apalpava entre os dedos alguma planta, o outro debruçava-se por sua vez e meneava também a sua. Acabavam de reconhecer o rasto da lagarta. E as flores abertas proporcionavam a qualquer deles o mesmo prazer.

Ora, aconteceu que um mercador contratou um dos dois e o associou por algumas semanas à sua caravana. Mas os ladrões de caravanas e depois as voltas que a vida dá e as guerras entre os impérios e as tempestades e os naufrágios e os lutos e as ruínas como uma pipa levada e trazida pelo mar, empurrando-o de jardim para jardim até aos confins do mundo.

Ora, o meu jardineiro, depois de uma velhice em silêncio , recebeu um dia uma carta do amigo. Sabe Deus quantos anos ela tinha navegado. Sabe Deus que diligências, que cavaleiros, que navios, que caravanas, a tinham pouco a pouco encaminhado, com essa mesma obstinação das milhares de ondas do mar, até ao seu jardim. E, nessa manhã, como ele resplandecia de felicidade e a queria partilhar, pediu-me para ler, como se pede pra ler um poema, a carta que tinha recebido. Ficou-se a ler no meu rosto a emoção da leitura. A verdade é que eram só algumas palavras, porque os jardineiros sempre tinham tido mais habilidade pára cavar do que para escrever. Só consegui ler: "Hoje de manhã, podei as minhas roseiras...". Aquilo me fez meditar sobre o essencial, que sempre me pareceu informulável. E meneei também a cabeça, como eles teriam feito.

Daí em diante, nunca mais o meu jardineiro havia de saber o que é o repouso. Poderias tê-lo ouvido informar-se da geografia, dos correios, das caravanas e das guerras entre os impérios. Três anos mais tarde, chegou por acaso o dia de eu mandar qualquer embaixada ao outro lado da terra. Mandei chamar o meu jardineiro: "se quiseres, podes escrever ao teu amigo." As minhas árvores sofreram um pouco com isso e também os legumes da horta e houve festa entre as lagartas, porque ele passava o dia em casa gatafunhando, rasurando, recomeçando a tarefa, tirando a língua de fora como uma criança debruçada sobre o trabalho. Mas descobria qualquer coisa de urgente a dizer, como que sentia a necessidade de se transportar todo ele, na sua verdade, para a casa do amigo. Precisava construir a sua própria ponte sobre o abismo, alcançar a outra parte de si próprio através do espaço e do tempo. Precisava dizer o seu amor. Por fim, todo corado, veio-me submeter à apreciação a sua resposta e perscrutar outra vez ainda no meu rosto um reflexo da alegriaque havia de iluminar o destinatário. O que ele queria era experimentar em mim o poder das suas confidências. Afinal, apenas confiava ao amigo, na sua escrita aplicada e desajeitada, como que uma oração muito convicta, mas de palavras humildes: "Hoje de manhã, também podei as minhas roseiras...". Na verdade, era o mais importante que ele podia dar a conhecer:(...)

Após a leitura, permaneci calado, meditando sobre o essencial, que eu ia compreendendo cada vez melhor. É que eles, sem o saber, estavam afinal a homenagear-te: era em ti, Senhor, que eles vinham a encontrar, para além das roseiras.

Saint Exupéry

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

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RB diz: "Você teria coragem de admitir que fez a escolha errada?", em matéria de marido. Mas nada em mim se assusta ou se preocupa com a questão. Sinto-me bem com meu marido: gosto do seu calor e seu tamanho e seu estar-aqui, gosto de suas brincadeiras e histórias e das coisas que lê e do modo como adora pescar e andar e aprecia porcos e raposas e animais pequenos e é honesto, nem um pouco vaidoso ou alucinado pela fama, e como demonstra seu contentamento quando cozinho para ele e sua alegria quando faço algo ou um poema, um bolo, e como fica inquieto quando estou infeliz e quer fazer qualquer coisa para me ajudar a vencer as pelejas da alma e amadurecer com coragem e levesa filosófica. Amo seu cheiro gostoso e seu corpo que encaixa no meu como se tivessem feito na mesma fábrica de corpos, com este propósito. O que são apenas partes, distribuídas aqui e ali para este rapaz e aquele outro, fazendo com que eu goste deles em parte, está tudo reunido em meu marido. Portanto, não quero mais sair por aí procurando: não preciso procurar mais nada.

O que ele não tem? Um emprego fixo que dê sete mil por ano. Uma renda própria. Todas as coisas que um monte de dinheiro compra. Ele tem seu cérebro, seu calor, seu talento e amor pelo trabalho, mas não tem fortuna nem renda fixa. Que Horror.
Ele pode ganhar dinheiro e o fará, quando quiser e precisar. Ele não põe isso em primeiro lugar, apenas. Muitas outras coisas são mais importantes, para ele. Por que deveria pôr o dinheiro antes de tudo? Não vejo motivo.

Portanto, ele tem tudo o que eu posso desejar. Eu poderia ter tido dinheiro e homens com empregos fixos. Mas eles eram chatos, doentes, superficiais ou mimados. Eles me davam ânsia, a longo prazo. O que eu queria estava dentro da pessoa, algo capaz de me fazer sentir perfeitamente feliz ao seu lado, mesmo nua no Saara: alguém forte e amoroso de corpo e alma. Simples e rijo.

Então eu reconheci o que queria quando vi. Precisava, após treze longos anos sem homem capaz de receber meu amor por completo e me dar em troca um fluxo firme de amor, um homem que tornasse perfeito o círculo do amor e fizesse tudo ao meu lado. Encontrei um. Não precisei ceder ou aceitar um gentil vendedor de seguros careca ou um professor impotente ou um médico presunçoso idiota, como minha mãe disse que eu deveria. Agi conforme minhas convicções e casei-me com o único homem a quem poderia amar, e quero vê-lo fazer o que bem entender neste mundo, e quero cozinhar e ter filhos e escrever a seu lado. Eu fiz exatamente o que minha mãe disse para não fazer. Eu não cedi. E era, para todos os efeitos, feliz com ele, minha mãe pensava.

Isso deve deixar minha mãe atônita. Como posso ser feliz, tendo feito algo tão perigoso como seguir meu próprio coração e minha mente, apesar de seus conselhos experientes e a desaprovação de Mary-Ellen Chase e da fria censura dos olhos pragmáticos norte-americanos: Mas o que ele faz na vida, afinal? Ele vive, minha gente. É isso que ele faz.

Muito pouca gente faz isso hoje em dia. É arriscado demais. Para começar, é uma tremenda responsabilidade ser você mesmo. É muito mais fácil ser outra pessoa ou ninguém. Ou entregar a alma a deus feito Santa Teresa e dizer: Meu único temor é seguir meus próprios desejos. Faça isso por mim, ó Deus.

Trecho: Sylvia Plath, Diário.

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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Quanto tempo?
Quanto tempo ainda?
Anos, dias, horas?
Quanto?

Quando penso nisso
como me bate o coração.
Meu país é vida
Quanto tempo ainda?
Quanto?

Eu amo tanto o tempo que me resta.
Quero rir, correr, chorar, falar,
e ver e crer, e beber, dançar,
gritar, comer, nadar,
saltar, desobedecer.

Eu não acabei, eu não acabei.
Voar, cantar, partir,
voltar a partir.
Sofrer, amar, eu amo tanto
o tempo que me resta.

Já não sei mais onde
nasci, nem quando.
Sei que não foi há muito
tempo...e que meu país é a vida.

Eu também sei que meu pai dizia...
"O tempo é como o seu pão,
guarde um pouco para amanhã".
Ainda tenho o pão,
ainda tenho tempo, mas, quanto?

Quero brincar ainda,
Quero rir às gargalhadas.
Quero chorar rios de lágrimas.
Quero beber barcos inteiros de
vinho, de Bordeaux e da Itália
Quero dançar, gritar, voar,
nadar em todos os oceanos.

Eu não acabei, eu não acabei.
Quero cantar,
Quero falar até ficar sem voz.
Eu amo tanto o tempo que me resta.
Quanto tempo?
Quanto tempo ainda?
Anos, dias, horas, quanto?

Quero as histórias, as viagens.
Tenho tanta gente a ver,
tantas imagens,
de crianças, de mulheres,
de grandes homens,
de pequenos homens,
engraçados, tristes,
muito inteligentes, bobos.

Que engraçado,
os bobos me rodeiam,
como as folhas entre as rosas.
Quanto tempo?
Quanto tempo ainda?
Anos, dias, horas, quanto?

não me importo, meu amor.
Quando a orquestra parar,
continuarei dançando,
Quando os aviões não mais
voarem, eu voarei sozinho.
Quando o tempo parar,
Eu a amarei ainda.
Eu não sei onde,
Eu não sei como,
mas eu ainda a amarei.
Está bem?

Poema: Desconheço autor

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domingo, 17 de outubro de 2010

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Uma vez já balancei nas árvores



e sonho voltar a balançar...

Trecho: Robert Frost
Arte: René Magritte

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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

MEMORANDUM

Um chegar e incorporar-se o dia
Dois respirar para subir a ladeira
Três não jogar-se em uma só aposta
Quatro escapar da melancolia
Cinco aprender a nova geografia
Seis não ficar-se nunca sem a sesta
Sete o futuro não será uma festa e
Oito não assustar-se ainda
Nove vai a saber quem é o forte
Dez não deixar que a paciência ceda
Onze cuidar-se da boa sorte
Doze guardar a última moeda
Treze não tratar-se com a morte
Catorze desfrutar enquanto se pode

Poema: Mário Benedetti

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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu meus cartões de visita
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minha dieta
O amor comeu todos os meu livros de poesia
O amor comeu meu Estado, minha cidade
O amor comeu minha paz, minha guerra, meu dia e minha noite
Meu inverno, meu verão
Comeu meu silencio, minha dor de cabeça
O meu medo da morte

Poema: João Cabral de Melo Neto
Arte: Edward Munch

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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

DA GENTE QUE EU GOSTO.

Eu gosto de gente que vibra, que não tem de ser empurrada, que não tem de dizer que faça as coisas, mas que sabe o que tem que fazer e que faz. A gente que cultiva seus sonhos até que esses sonhos se apoderam de sua própria realidade.

Eu gosto de gente com capacidade para assumir as conseqüências de suas ações, de gente que arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, que se permite, abandona os conselhos sensatos deixando as soluções nas mãos de Deus.

Eu gosto de gente que é justa com sua gente e consigo mesma, da gente que agradece o novo dia, as coisas boas que existem em sua vida, que vive cada hora com bom animo dando o melhor de si, agradecido de estar vivo, de poder distribuir sorrisos, de oferecer suas mãos e ajudar generosamente sem esperar nada em troca.

Eu gosto da gente capaz de me criticar construtivamente e de frente, mas sem me lastimar ou me ferir. Da gente que tem tato. Gosto da gente que possui sentido de justiça. A estes chamo de meus amigos.

Eu gosto da gente que sabe a importância da alegria e a pratica. Da gente que por meio de piadas nos ensina a conceber a vida com humor. Da gente que nunca deixa de ser animada.

Eu gosto de gente sincera e franca, capaz de se opor com argumentos razoáveis a qualquer decisão. Gosto de gente fiel e persistente, que no descansa quando se trata de alcançar objetivos e idéias.

Eu gosto da gente de critério, a que não se envergonha em reconhecer que se equivocou ou que não sabe algo. De gente que, ao aceitar seus erros, se esforça genuinamente por não voltar a cometê-los. De gente que luta contra adversidades. Gosto de gente que busca soluções.

Eu gosto da gente que pensa e medita internamente. De gente que valoriza seus semelhantes, não por um estereotipo social, nem como se apresentam. De gente que não julga, nem deixa que outros julguem. Gosto de gente que tem personalidade.

Eu gosto da gente que é capaz de entender que o maior erro do ser humano é tentar arrancar da cabeça aquilo que não sai do coração.

A sensibilidade, a coragem, a solidariedade, a bondade, o respeito, a tranqüilidade, os valores, a alegria, a humildade, a fé, a felicidade, o tato, a confiança, a esperança, o agradecimento, a sabedoria, os sonhos, o arrependimento, e o amor para com os demais e consigo próprio são coisas fundamentais para se chamar GENTE.

Com gente como essa, me comprometo, para o que seja, pelo resto de minha vida... já que, por tê-los junto de mim, me dou por bem retribuído.

Impossível ganhar sem saber perder.
Impossível andar sem saber cair.
Impossível acertar sem saber errar.
Impossível viver sem saber reviver.

A glória não consiste em não cair nunca, mas em levantar-se todas as vezes que seja necessário.
E isso é algo que muito pouca gente tem o privilégio de poder experimentar.
Bem aventurados aqueles que já conseguiram receber com a mesma naturalidade o ganhar e o perder, o acerto e o erro, o triunfo e a derrota...

Mário Bennedeti

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sábado, 2 de outubro de 2010

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Água.

fui sentir o cheiro de
terra molhada.

ficamos ali
eu e meu corpo,
cantando a plenitude do mato
depois da chuva.



Água.

me amei.


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terça-feira, 28 de setembro de 2010

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Somos a matéria
de que os sonhos são feitos.

Willian Shakespeare
Arte: René Magritte

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domingo, 26 de setembro de 2010

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Tenho medo de ver-te
necessidade de ver-te
esperança de ver-te
insipidezes de ver-te
tenho ganas de encontrar-te
preocupação de encontrar-te
certeza de encontrar-te
pobres dúvidas de encontrar-te
tenho urgência de ouvir-te
alegria de ouvir-te
boa sorte de ouvir-te
e temores de ouvir-te



ou seja
resumindo
estou danado
e radiante
talvez mais o primeiro
que o segundo
e também
vice-versa

Poema: Mário Benedetti
Arte: Marc Chagall

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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

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Olha para o jogo de xadrez: há um vencedor e um vencido. O vencedor, às vezes, veste-se de um sorriso malicioso para humilhar o vencido, porque os homens são assim. (...) Raciocinas da seguinte forma: " Qual o mérito do vencedor? Ele era mais inteligente ou conhecia melhor a arte do jogo. A sua vitória não passa de expressão de um estado. Havia ele de ser glorificado por ter um rosto mais vermelho ou mais macio, mais cabeludo ou menos cabeludo...?"

Mas eu vi o vencido do xadrez jogar durante anos na esperança de vir festejar a vitória. É que tu és mais rico só em virtude dessa festa existir, mesmo que não em tua honra.

Texto: Saint Exupéry

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domingo, 19 de setembro de 2010

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tenho um outono no corpo
de onde as
coisas
caem



vejo doçura nas roupas
espalhadas
pelo
chão

Poema: Mariana Botelho
Arte: Tâmara de Lempicka

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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

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Para mim
seu olhar era lua cheia,



queria que fosse crescente
para ser sempre nova.

Poema: Gilmar Chiapetti
Arte: René Magritte

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domingo, 12 de setembro de 2010

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Porque não é pela via da linguagem que eu hei de
transmitir o que em mim existe.

O que existe em mim não há palavra que o diga.

Texto: Saint Exupéry
Vitral: Marc Chagall

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sábado, 11 de setembro de 2010

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Que culpa temos nós dessa planta da infância,
de sua sedução, de seu viço e constância?

Frase: Jorge de Lima
Fotografia: Retirada do Google

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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

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Às vezes imagino um mapa-múndi aberto e você estendido transversalmente sobre ele. Para mim, então, é como se entrassem em consideração apenas as regiões que você não cobre ou que não estão ao seu alcance. De acordo com a imagem que tenho do seu tamanho essas regiões não são muitas nem muito consoladoras e o casamento não está entre elas.



Você me estimulava, por exemplo, quando eu batia continência e marchava direito, no entanto eu não era um futuro soldado; ou me estimulava quando eu comia vigorosamente e além disso, conseguia beber cerveja; ou quando sabia repetir canções que não compreendia, ou arremedar suas expressões prediletas; nada disso, entretanto, fazia parte do meu "futuro".


Trecho: Franz Kafka

Arte: Egon Schiele


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terça-feira, 7 de setembro de 2010

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Aconteceu quando a gente não esperava
Aconteceu sem um sino pra tocar
Aconteceu diferente das histórias
Que os romances e a memória
Têm costume de contar.


Aconteceu sem que o mundo agradecesse
Sem que rosas florescessem
Sem um canto de louvor
Aconteceu sem que houvesse nenhum drama
Só o tempo fez a cama
Como em todo grande amor.

Poema: Péricles Cavalcante
Arte: Tâmara de Lempicka

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sábado, 4 de setembro de 2010

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Estou lá onde me invento e me faço:
Na arte ou na vida,
em carne, osso, lápis ou giz
onde estou não é sempre
e o que sou é por um triz.

Poema:Maria Esther Maciel
Arte: Jorge alío

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terça-feira, 31 de agosto de 2010

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Primeiro, eles vieram buscar os comunistas.
Mas, como eu não era comunista, eu não protestei.

Depois, vieram buscar os judeus.
mas, como eu não era judeu, eu me calei.

Então, vieram buscar os sindicalistas.
mas, como eu não era sindicalista, eu não protestei.

Depois, vieram buscar os católicos e,
como eu era protestante, eu me calei.

Depois, vieram buscar os homosexuais,
como eu não sou homosexual, eu não protestei.

Então, vieram me buscar...
e já não havia ninguém para protestar!

Poema: Martin Niemöller
Arte: Tarsila do Amaral

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sábado, 28 de agosto de 2010

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O teu sentido depende do sentido dos outros, quer tu queiras quer não. O teu gosto depende do gosto dos outros, quer tu queiras ou quer não. O teu ato depende é movimento de um jogo. Não de uma dança. É eu mudar o jogo ou a dança e mudo o teu ato num outro.

Construíste as tuas muralhas por causa de um jogo, tu próprio as destruíras por causa de outro.

É que vives, não das coisas, mas do sentido das coisas.

Texto: Saint Exupéry
Arte: Paul Klee

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Te Quero

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Tuas mãos são minha carícia
Meus acordes cotidianos
Te quero porque tuas mãos
Trabalham pela justiça

Se te quero é porque tu és
Meu amor, meu cúmplice e tudo
E na rua lado a lado
Somos muito mais que dois

Teus olhos são meu conjuro
Contra a má jornada
Te quero por teu olhar
Que olha e semeia futuro

Tua boca que é tua e minha
Tua boca não se equivoca
Te quero porque tua boca
Sabe gritar rebeldia

Se te quero é porque tu és
Meu amor, meu cúmplice e tudo
E na rua lado a lado
Somos muito mais que dois

E por teu rosto sincero
E teu passo vagabundo
E teu pranto pelo mundo
Porque és povo te quero

E porque o amor não é auréola
Nem cândida moral
E porque somos casal
Que sabe que não está só

Te quero em meu paraíso
E dizer que em meu país
As pessoas vivem felizes
Embora não tenham permissão

Se te quero é porque tu és
Meu amor, meu cúmplice e tudo
E na rua lado a lado
Somos muito mais que dois.

Poema: Mário Benedetti

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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

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Um, dois, três e quatro,
Dobro a perna e dou um salto,
Viro e me viro ao revés
e se eu caio conto até dez.



Quando estou num palco
Entre luzes a brilhar,
Eu me sinto um pássaro
A voar, voar, voar.

Letra: Toquinho e Mutinho
Arte: Edgar Degas

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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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É que estremece o meu convulso coração quando ela fala
E verte o sangue silábico, ou então se cala.

Trecho: Dylan Thomas
Arte: Henri Matisse

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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

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Ah, se a juventude que essa brisa canta
Ficasse aqui comigo mais um pouco
Eu poderia esquecer a dor
De ser tão só
Prá ser um sonho.



Fica, oh, brisa frica, pois talvez quem sabe
O inesperado faça uma surpresa
E traga alguém que queira te escutar
E junto a mim queira ficar...

Letra: Johnny Alf
Arte: Henri Matisse

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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

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Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro



Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo

Canção: Titãs
Fotografia: Kakhabad

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Ainda bem que não te basta olhar para ver.



Eu dizia de mim para mim:
- Nem aqueles que, através das coisas, sabem tocar o nó divino que as liga umas às outras dispõem permanentemente desse poder. A alma está cheia de sono. A alma não exercitada o está ainda mais. Como esperar que eles sejam tocados pela revelação como que por um raio? Só deparam com o raio aqueles que nele encontram a solução. Porque esperavam esse rosto, tão construídos estavam para serem abrasados por ele. O mesmo se passa com aquele que, mediante o exercício da oração, eu tornei disponível para o amor. Fundei-o tão bem, tão bem, que certos sorrisos serão para eles como gládios. Mas outros, em compensação, não passam de joguete do desejo.
Sei agora que amar é reconhecer e conhecer o rosto lido através das coisas. O amor não passa de conhecimento dos deuses.
Uma verdadeira janela se te rasga naquele preciso instante em que te é dado apreender na sua unidade a propriedade, a escultura, o poema, o império, a mulher ou Deus, através da piedade dos homens. Mas é a morte do teu amor no momento em que não vês nessas realidades mais do que conjuntos. E, no entando, não mudou aquilo que te é dado pela via dos sentidos.
Urge, por isso, converter aqueles que vêm ter comigo olhando sem ver. Só nessa altura se iluminarão e se tornarão vastos. E só então ficarão nus.

Texto: Saint Exupéry
Arte: Marc Chagall

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domingo, 15 de agosto de 2010

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Todo o nosso conhecimento se inicia com sentimentos.

Leonardo da Vinci
Fotografia: Vanilia

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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Da Primeira Febre de Amor

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Da primeira febre de amor ao seu flagelo, da segunda,
Mais branda, ao desértico instante do útero,
De seu desdobramento ao umbigo cortado,
Ao tempo do seio e à época feliz do avental,
Quando nenhuma boca se contorcia por não ter o que comer,
O mundo inteiro era um só, um nada tempestuoso;
Meu mundo fora batizado num córrego de leite.
A Terra e o céu eram como uma colina flutuante,
E o sol e a lua derramavam sua luz imaculada.

Da primeira impressão deixada pelos pés descalços,
Da mão que se levanta, do aparecimento dos pêlos,
Ao milagre da primeira palavra afinal articulada,
Do primeiro segredo do coração, o fantasma que adverte,
À primeira ferida silenciosa na carne,
O sol era vermelho, a luz acinzentada,
E a Terra e o céu como duas montanhas enlaçadas.

O corpo progredia, os dentes irrompiam das gengivas,
Os ossos se desenvolviam, ouvia-se o rumor do sêmen
Dentro da glândula sagrada, o sangue abençoava o coração,
E os quatro ventos, que sopravam como um só,
Irradiavam a luz do som em meus ouvidos,
Despertando os meus olhos para o som da luz.
E amarela era a areia que se multiplicava,
Cada grão dourado dava vida ao que lhe estava ao lado
Verde era a casa que cantava.

A ameixa colhida por minha mãe amadureceu lentamente,
O menino que ela fizera emergir das trevas
Crescia forte ao seu lado no regaço da luz.
Era musculoso, carnudo, atento às coxas que gemiam
E à voz que, como a voz da fome,
Comichava no rumor do vento e do sol.

E aprendi, com a primeira fraqueza da carne,
A linguagem do homem, a retorcer as formas do pensamento
No pedregoso idioma do cérebro, a obscurecer
E novamente urdir a trama das palavras
Legadas pelo morto que, em seu alqueire sem luar,
Não carecia de nenhum calor verbal.
A raiz das línguas se extingue num câncer estiolado,
Que é apenas um nome sobre o qual os vermes fazem um xis.

Aprendi os verbos da vontade, e tinha um segredo;
O código da noite se imprimira em minha língua;
O que fora um só eram muitos a ecoar no espírito.

Um só útero, um só espírito, expeliram a matéria,
Um único seio amamentou o fruto da febre;
Conheci a outra face do céu que se divorcia,
O planeta bilobado que girava em uma órbita;
Milhões de espíritos nutriam uma semente,
Como aquela que bifurca o meu olhar;
A juventude se abreviava, as lágrimas da primavera
Se dissolviam no verão e em centenas de estações;
Um único sol, um só maná, aqueciam e alimentavam.

Dylan Thomas

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terça-feira, 10 de agosto de 2010

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O lobo-guará é manso
foge diante de qualquer ameaça
é solitário
avesso ao dia, tímido

detesta as cidades
onde quase sempre é atropelado
onívoro, com mandíbulas fracas
come pássaros, ratos, ovos, frutas

às vezes, quando está perdido,
vasculha latas de lixo nas ruas
engasga ao mastigar garrafas
de plástico ou isopores

se corta ou morre ao morder
lâmpadas fluorescentes
ou engolir fios elétricos
morre ao lamber inseticidas

ou restos de tinta
ou ao engolir remédios vencidos
ou seringas e agulhas
descartáveis



dócil, sem astúcia,
é facilmente capturado e morto
por traficantes de pele
quando então uiva!

Poema: Régis Bonvicino
Imagem retirada do Google

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domingo, 8 de agosto de 2010

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Tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete de flores
a concebê-las.

José Gomes Ferreira
Arte: Claude Monet

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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

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E se você dormisse? E se você sonhasse?
E se, em teu sonho, você fosse ao paraíso
e lá colhesse uma flor bela e estranha?
E se, ao despertar, você tivesse a flor
entre as mãos? Ah, e então?

Samuel Taylor Coleridge
Fotografia: Kakhabad

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terça-feira, 3 de agosto de 2010

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É quando resistes que conhece o que te move. E, para a folha
entregue ao vento, deixa de haver vento, da mesma maneira que
para a pedra liberta deixa de haver peso.

Saint Exupéry

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sexta-feira, 30 de julho de 2010

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E doidamente me apodero
dos desvãos de mim,
meus desvarios me sufocam
de tanta beleza.



Eu sou antes,
eu sou quase,
eu sou nunca.

Clarice Lispector
Arte: Jorge Alio

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quarta-feira, 28 de julho de 2010

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A boca,
onde o fogo
de um verão
muito antigo
cintila.



O que pode uma boca
esperar
senão outra boca?

Poema: Eugénio de Andrade
Arte: Edvard Munch

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sábado, 24 de julho de 2010

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Quase sem querer nascí
Quase sem querer crescí
Quase sem querer
te conheci.
Gostei de tua risada fresca,
criança crescida
e tua maneira de olhar.
Foi dificil respirar,
comecei a tremer
e quase sem querer
te beijei.
Quase sem querer
me rio
Quase sem querer
sinto a tua falta.
Quase sem querer
me apaixonei
Deste urso carinhoso,
criança crescida
que sem querer também
me amou.
E me enche de carícias
sem a obrigação
de prometer-me
eterno amor.
Quase sem querer
se esquece.
Quase sem querer
se perde.
Quase sem querer
se vai o amor.
Por isso te estou querendo
quase sem querer.
Jurar-te eterno amor, não sei.
Talvez
algum dia
nos surpreenda a velhice
muito juntos,
quase sem querer.

Poema: Marilina Ross
Arte: Marc Chagall

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sexta-feira, 23 de julho de 2010

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a trepadeira

cresceu
espalhou-se
pulou o muro

foi mostrar a flor
pra deus e o mundo

[Líria]

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quinta-feira, 22 de julho de 2010

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Tem girassóis amarelos
o meu quadrado de sol.



A vida espancada passa
mas no quadrado de sol
aberto sobre o jardim
o girassóis amarelos
velhos
mostram o fim.

Poema: Luandino Vieira
Obra: Van Gogh

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terça-feira, 20 de julho de 2010

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Vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir para parar.
Aí eu paro
tiro o sapato
e danço o resto da vida.

Poema: Chacal
Arte: Renoir

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segunda-feira, 19 de julho de 2010

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Lutareis contra os apegos do homem aos bens materiais. Se
quiserdes fundar o homem no filho do homem, ensinai-lhe em
primeiro lugar a troca porque, fora da troca, nada mais há do
que endurecimento.
Ensinareis a meditação e a oração, porque tornam a alma mais
vasta. E o exercício do amor. Porque o que é que o haveria de
substituir? E o amor de nós próprios é o contrário do amor.
Castigareis em primeiro lugar a mentira e a delação, que
realmente podem servir ao homem e na aparência à cidade. Mas
só a fidelidade cria os fortes. Porque não há fidelidade num
campo e não num outro. Quem é fiel é sempre fiel. E está muito
longe de ser fiel aquele que é capaz de trair o companheiro de
trabalho. Eu tenho necessidade de uma cidade forte, e Deus me
livre de apoiar a força dela no apodrecimento dos homens.
Pregareis o gosto da perfeição, porque toda obra é uma marcha
para Deus e só na morte pode acabar.

Saint Exupéry, Cidadela.

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sexta-feira, 16 de julho de 2010

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Quando eu penso que você se foi,
Negra sombra que me asombra.
óh pé dos meus cabelos,
Voltas fazendo-me chacota.

Quando eu imagino que você se foi,
no mesmo sol que te mostra a mim,
E és a estrela que brilha,
E és o vento que zumbe.

Se cantam, és tu que canta,
Se choram, és tu que chora,
e és o murmúrio do rio
e és a noite e a auróra.

Em tudo estás e tudo és,
para mim e minhas amoras,
não me abandonarás nunca,
sombra que sempre me asombra.

Poema: Rosália de Castro
Imagem retirada do Google

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quarta-feira, 14 de julho de 2010

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Mar adentro, mar adentro
e nesse fundo onde não há mais peso,
onde se realizam os sonhos,
se juntam as vontades
para cumprir um desejo.

Um beijo acende a vida
com um relâmpago e um trovão,
e em uma metamorfose
meu corpo já não é mais meu corpo
é como penetrar o centro do universo

O abraço mais pueril
e o mais puro dos beijos,
até vermo-nos reduzidos
a um único desejo:

Seu olhar e meu olhar
como um eco se repetindo, sem palavras:
mais adentro, mais adentro,
até mais além de todo o resto
pelo sangue e pelos ossos

Mas me desperto sempre
e sempre quero estar morto
para seguir com minha boca
enredada em teus cabelos

Ramón Sampedro

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domingo, 11 de julho de 2010

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Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!



Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

Poema: Alexandre O'neill
Arte: Cândido Portinari

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sexta-feira, 9 de julho de 2010

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Eu ontem comecei a ir. Fui belo como convém.
Em se tratando de ir,
Vai-se muito mais que vem.





Caminhar é meu enredo.
Vou indo, mesmo com medo.
O próprio medo me obriga.


Poema: Carlos Augusto Cacá
Arte: August Macke


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segunda-feira, 5 de julho de 2010

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A luz aflora onde nenhum sol brilha;
Onde nenhum mar se move, as águas do coração
Impelem suas marés; (...)

A aurora emerge atrás dos olhos;
Dos pólos do crânio e dos dedos dos pés, o sangue tempestuoso
Desliza como as ondas do mar;
Sem arrimo ou amurrada, os poços do céu
Jorram até as bordas,
Prenunciando num sorriso o óleo das lágrimas.

A luz aflora em lugares recônditos,
Nos píncaros do pensamento onde seu aroma flutua sob a chuva;
Quando a lógica se extingue,
O segredo da terra germina através dos olhos,
E o sangue salta sobre o sol;
A aurora se detém sobre os campos desolados.

Dylan Thomas

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Síl do blog Construindo minha colcha de retalhos fez essa linda postagem dedicada a mim.

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domingo, 4 de julho de 2010

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Meu coração é uma máquina de escrever



É só você bater pra entrar na minha história.

Trecho:(Kovak e Capucho)
Imagem Retirada do Google

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- Pronto, pode abrir os olhos!



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Imagem retirada do Google.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

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E há momentos nos quais você se sente muito sábia, superando a
idade. Toma sol nas pedras, a água bate nos seus pés quando
subitamente uma menina bochechuda sardenta com uns dez anos
se aproxima, levando na mão algo invisível, mas evidentemente
precioso.



"Você sabe", ela perguntou sem rodeios, "se a estrela-do-mar prefere
água quente ou fria?"

Diário de Sylvia Plath
Fotografia: Rita Carmo Martins

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