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Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.

Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda.
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Poema: Ana Cristina César.
Arte: Toulouse Lautrec. Loie Fuller 1892.
Arte: Toulouse Lautrec. Loie Fuller 1892.
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33 comentários:
Ana Cristina Cesar, foi uma renomada poetisa e contribuinte para o literário contemporâneo. Fez parte da revolucionária Geração de 70, na qual foi publicada em 1976 numa antologia "26 poetas hoje" de Heloísa Buarque de Hollanda, denominada marginal, pois foi num momento histórico-político brasileiro em que predominavam as normas ditatoriais, e assim, como tudo era censurado na época, os escritores também tinham um padrão vigente a seguir.Os poetas marginais foram de encontro à essas regras, inspirados pelo Tropicalismo de Caetano Veloso, criando uma nova literariedade cheia de lirismo e subjetivismo, como podemos ver em Ana.
Seguindo uma literatura, sem querer ser literária, Ana Cristina exprime sua marca de valor coloquial, negando a métrica nos poemas, fragmentando-os com ideias soltas, que para muitos pode parecer um sentimentalismo confessional, obviamente uma hipótese possível, porém, é essa a sedução estética a qual transmite o eu-lírico; um monólogo, um falar na primeira pessoa que nos puxa como um imã para o universo misterioso e fundido da escritora com o eu-lírico.
No poema aqui postado, por exemplo, é fácil enxergarmos o marginalismo da poetisa, que junto com os demais "marginais", quis retomar o lirismo libertário dos poetas modernistas de 1922. Quando ela diz no poema: "não há razão para conservar este fiapo de noite velha" ela num tom confessional, fala da própria escrita numa linda metalinguagem que será mais à frente explicada por ela mesma, numa mutabilidade contínua. A sombra no papel são os seus manuscritos, aquilo que permaneceu depois dos resquícios cortados no pensamento."Discursos detonam", pois tudo o que se diz, se desfaz tão logo, explode e perde o valor da existência, se tornando apenas fiapos de noite velha. Logo predomina a negação do passado, aceitando apenas a brevidade do presente sendo vivido, concluindo a afirmação de que tudo se esvai, e mesmo as suas palavras no papel não pertencem mais à sua verdade individual, perdendo todo o significado e sendo só e unicamente matéria.
Numa singularidade ímpar, podemos constatar o desejo efêmero presente na totalidade da obra, a ideia do instante breve da vida naquilo que se desmancha, cultuando o presente, não possuindo forma, pois está sempre em movimento, intercalando a dualidade vida e morte, já que tudo tem intensa rapidez e desapego nos olhos e nas palavras auto-biográficas ou não da escritora de produção poética marginal, mas que não se contentou com a brevidade das palavras. Precisou vivê-las para senti-las, num vôo inclinado ao chão, para cima. Marginal. Além do tempo...eterna.
Por: Fernanda Curcio.
Pra ir dormir pensando no fiapo de noite velha, que eu preciso cortar...
Lind+++++
Bj doce Leo
Tão bom ter a alma lavada. Tanta falta faz essa água quase escassa para aliviar os pesos sempre desnecessários que carregamos...
"Também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são..." > (idem =)
Sempre corremos o risco de provar o doce do veneno de alguém.
lindo, Leo!
adorei
Ola Léo!
Ja tinha saudades das suas publicações!
Bela publicação!
Nada como ter a alma lavada...
Bjnhos
Leo, eu não conhecia Ana Cristina, gostei do poema.
Tenha uma linda semana, abraços.
Lindo, Leo, como vc e seu cantinho aqui. Bj
Forte...
Destemido... libertador...
Beijo grande Leozinho, saudades..
Que post intenso, Leo!!
Saudades daqui...
Estava "lavando a alma" nesse tempo que fiquei longe.
Talvez, a vida seja uma sucessão de fitas cortadas, hum?
Beijinhos...
oi Leo
Acho super bacana as telas que você escolhe pra cada poema, como rimam.
Este ficou parecendo ser a tradução da tela.
Obrigada por me fazer conhecer Ana Cristina.
Um beijo!
Belíssimo!
Que riqueza essa análise do poema.
Já que tudo se desfaz, transforma-se em fiapos de uma noite velha, aproveitemos para tecer novos sonhos, outras novas palavras nesse mesmo tecido da noite.
um beeijo meu*
Adorei o poema!
Temos que deixar algumas coisas para trás e viver para o novo =)
=**
é preciso se permitir , deixar as coisas que não nos importam mais no passado , lavar mesmo a alma , deixar fluir novos versos , coisas novas acontecerão !
Bela escolha , como sempre !
Beijo
Leo,
Gostei do poema, muito.
"...de uma doçura
venenosa
de tão funda."
Mas, a complementação que você publicou em teu primeiro comentário matou a pau!
Beijos,
Suzana/LILY
Estava com uma saudade imensa daqui e de ler tais coisas doces.
Abraço meu, Moço dos nossos segredos.
Olá moço querido.
Muito bom isso.Amei Ana Cristina Cesar.
Amei teu carinho por lá.
Você é muito querido meu.
Beijinho.
PS: Gostei da foto do perfil.
Leozinho amado
que bom que você gostou das minhas histórias.
Aquela foi a única viagem que não planejei fazer, um lugar que não desejei ardentemente conhecer e foi lá o lugar mais arrebatador, os dias mais incríveis em viagem que já passei, por isso resolvi conta-la.
Obrigada por viajar comigo.
Um beijinho!
A alma lavada alveja a vida, esclarece o olhar.
Muito bonito, Leo.
Um beijo.
Às vezes repouso os olhos naquele velho álbum de fotografias e uma pequena luz verde se acende em minha mente. Instantes depois ela se apaga, vira uma névoa tênue, e todas aquelas pessoas desaparecem.
Discursos detonam!
Que blog interessante!
Eu concordo com a Nath Rocha!
Talvez, a vida seja mesmo uma sucessão de fitas cortadas, para tecer novos sonhos, novas palavras no mesmo tecido em cada manhã... a cada dia, a cada bater de asas!
Léo, meu doce Léo!
Você é respiração!
(silêncio)
-Te beijo.
-Me beija!
Que lindo, rs! Muito obrigada pelo carinho lá no blog. Eu sou uma pessoa super romântica, acho que já deu pra perceber né? rs
Tem post novo lá, acredito que vc irá se identificar. Corre lá, BEIJOOOOOOOS
"No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,"
E esse passado que revira tudo, as pessoas vão, palavras se renovam, mas o 'não saber' é complexo, vazio, profundo...
Beijo
Bom dia Leo
Te fiz um carinho em meu blog e te indiquei em um post que adorei fazer. Mas fique a vontade, não se sinta obrigado.
Um beijo querido!
Leo querido,
Eu não conhecia Ana Cristina, gostei muito. Sinto saudades suas, muitas vezes passo por aqui sem deixar marcas, mas levo sua sensibilidade no coração.
Um beijo
Denise
tudo muda
o mundo gira
novas vidas, novas pessoas
pra que se prender ao que já passou
quem ama não afunda
a vida não é areia movediça
para de andar na ponta dos pés
amar deixa firme o chão
Uma doçura venenosa, de tão funda... Que lindo, Leo! Preciso reorganizar meu tempo para voltar a passar por aqui, e cuidar do meu blog também. Saudades... Beijo!
Gostei muito!
Não conhecia Ana Cristina. Mas é muito boa! =)
Leo, me dá uma forcinha?
Vota na minha foto por favor?
http://www.eusouinfomaniaco.com.br/image/gallery
MAIRA FRANÇA DE SOUZA (Clique na foto para abrir, deve tá lá nas últimas pags)
Precisando é só falar tá?! =)
=*
"Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha..."
"Se não brilha mais, não insista. Lâmpada queimada não se arruma. Se troca por outra" (CFA)
...
É bom volver aqui.
Nunca sou eu que está aqui, Ana.
Meu Deus como tô com saudade dele *.*
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