Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol...


sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

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Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro



Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

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Arte: Salvador Dalí. A desintegração da memória, 1954.
Poema: David Mourão-Ferreira. Ladainha dos póstumos natais, 1986.

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26 comentários:

Leo disse...

O poema delineado é de autoria do poeta português David Mourão Ferreira, escritor marcante nas artes literárias, influenciando até aqueles que não o conheceram na escrita, através dos fados cantados por Amália Rodrigues, por exemplo, famosa pela bela voz a qual interpretou inúmeras poesias musicadas do poeta, e também no meio televisivo, sendo então, um homem participativo e social. Apesar de ter grande afeição pelas questões ideológicas, como vários artistas de sua época, David Mourão empenhou-se durante a modelação de sua escrita, a desenvolver uma literariedade anti-manifestística, ou seja, uma negativa ao padrão libertário constituído na prosa e na poesia, de caráter nacionalista e sócio-político, pois acreditava ser este engajamento de cunho crítico ao estrangeirismo e extremista na divulgação do patriotismo, uma forma de empobrecer o lirismo metafórico da poesia, que é antes de tudo, um olhar conotativo sobre o mundo. O modernista renega os motivos e as formas edificadas da geração de 1950, de finalidades sociais, dizendo inclusive, que a década panfletária e comunista, resumiu a arte em algo banal e imediatista, já que toda a formalidade e tradição foram postas de lado em prol de uma revolução nas Letras. Defendia as convenções clássicas, afirmando que o artista para ser completo, deve ter a originalidade poética, mas também o tecnicismo, visando o equilíbrio de não ser apenas inspiração, e sim transpiração.
Sendo um clássico na era moderna, escrevia sempre à moda lírico-amorosa dos antigos, respeitando e admirando o conservadorismo literário e culto. Em suas temáticas fizeram história também, como pode ser notado no poema "Ladainha dos Póstumos Natais", a presença demarcada da memória e do "nada", características registradas do poeta português. Inicialmente, o eu-lírico ainda não concreto no tempo, viaja na memória diluída e reversível, acionando a imaginação mole e vulnerável da memória que será no futuro, desenhada. Gradativamente e linear, sua mente constrói passagens reflexivas da morte aos poucos carcomida e envelhecida, logo então, esquecida da consciência daqueles que continuaram vivos. É o ciclo da morte da morte, um pouco irônica numa data a qual simboliza nascimento e milagre para o cristianismo, talvez posta no poema para exemplificar o período de união não só de corpos, mas também de lembranças retomadas pelo feixe cinzentado de luz entreaberto pelo inconsciente. Tudo desmorona-se e decompõe-se até não restar "um verso deste livro", para na estrofe seguinte iniciar uma outra vida em que o "Nada" se transforma em tudo, e ele como uma lousa em branco, retorna reconstruído na ruptura esfaqueada da memória. Não é só isso. Não apenas as pessoas morrem junto com as coisas, levando também consigo a imagem dos signos, minguados pela ausência de significados, mesmo o Natal, antes tão singular para o eu-lírico, que agora transfigura e desmembra qualquer amarra com a morte, reconstruindo outra desligada e perpetuada nas cores do infinito.

Por Fernanda Curcio.

PS: Caros amigos blogueiros, estive com problemas com minha conexão,por isso não visitei vocês que me acompanham, mas quero agradecer cada recado de natal. Haverá mais nós em 2012. Que seja Iluminado.

JAN disse...

LEO, EM NOME DA CULTURA LITERÁRIO E, EM QUE PESE MEU RESPEITO PELO AUTOR DOS VERSOS, E PELA SUA ESCOLHA DA ILUSTRAÇÃO DEVO DIZER:

É A TREVA!!!!:-)))))
QUE 2012 SEJA UP, RAPAZ!

DESCULPE A FRANQUEZA RUDE....
TIMTIM...ABRAÇÃO
JAN

Ale disse...

Leo,


Encantador!

Talvez, pra nos lembrar ou fazer pensar sobre o natal (e a vida) que queremos,


Maravilhoso!


Bjkas

Be Lins disse...

Assim como em todas as coisas, também no vazio pulsa a anergia que renova, que permite reencontros, recomeços,
novos começos, estréias...

Querido Leo,
você é um encanto que não pára de se agigantar.
Desejo-te um ano muito bom, muito feliz e de realizações inúmeras.

Paz, Saúde e Boa Vontade,e muitos beijos pra você.

Be

Denise Portes disse...

Leo querido,
Feliz Ano Novo, com muita saúde e muita paz.
Um beijo
Denise

Liza Leal disse...

Há de vir o Natal,
e será o primeiro em q o Natal terá qualquer sentido.

bjo, Leo!
Um super 2012 pra vc e sua família.

=)

disse...

Leo...
achei o poema triste...
mas belo e verdadeiro.

Feliz ano novo pra vc!
alegrias e saude.

beijos

Néia Lambert disse...

Leo, vim lhe desejar um Feliz 2012! Muita saúde e paz!

Um abraço.

Daniela disse...

Natal, também esconde a tristeza dentro do olhar ...

Léo ,feliz 2012 !
Bjo

Anônimo disse...

Leozinho,

Feliz Ano Novo!

Que o tempo do nada retomar a cor do infinito demore bem a chegar, até lá vamos juntos, cheios de alegria.

O poema é lindo, nostálgico, mas verdadeiro.

Um beijo

Lunna disse...

Triste.


Beijos

lolipop disse...

"De mãos dadas talvez o fogo nasça
talvez seja Natal e não Dezembro
talvez universal a consoada."

David Mourão Ferreira escreveu o Natal dum modo especial.
Sempre excelentes escolhas as suas querido Leo.

FELIZZZZZZ 2012!

Ternuras

Janaina Cruz disse...

Ah, Leo meu amigo, você sempre a nos proporcionar arte de excelente gosto, obra de Dalí e poema de Mourão são presentes para agradar ao novo ano, que já nasce cheio de promessas.

Aleatoriamente disse...

Eu não vim no natal, mas venho no ano novo!Te desejar tudo de mais lindo que existe no mundo. Porque você me cativou desde o princípio.Leo amigo querido, desejo que sejas muito feliz, que realize sonhos, que ame bastante e seja amdo.

Com carinho.
Fernanda

Lara Mello disse...

Lindo Leo!
Que saudades suas, agora quem anda sem tempo sou eu, mas quero está sempre por aqui ^^

Que o ano seja doce!

=**

Carina Rocha disse...

Passei, para me repetir, dizer-te que cada nova publicação é melhor que a anterior, adoro passar por cá e ler, achei esta publicaçao bastante nostálgica.

Quanto as telas, acho-as divinas mas esta em especial porque gosto mesmo das obras do Salvador Dali.

Feliz ano e tudo de bom, mereces!

Guilherme Navarro disse...

Seu blog é um canto muito primoroso nessa monte de coisas duvidosas que vemos por aí, em termos de sites. Muito bom! Passei quase 1 hora lendo seus posts e são todos de muita qualidade.

Obrigado pelo elogio a minha narrativa em meu blog. Desculpe-me a demora, mas fiquei meio afastado e estou retomando agora o ofício da arte.

Abraços!

Passos silenciosos disse...

E que possamos nascer..

Passando para lhe desejar uma semana abençoada... e me encantar com tudo por aqui..

Bjos no coração, fica com Deus...

Unknown disse...

OI Leo, estou apaixonada pelo seu blog, é simplesmente lindo!!!
Bjo no coração e venha me visitar também.

http://umcantonocoracao.blogspot.com/

xxxxx disse...

Leo amado, voltei.

Feliz 2012! \0/

Rafael Castellar das Neves disse...

Muito bom...ótima escrita!

[]s

vanessa carvalho disse...

Gostei daqui.
Bonito poema.

Flores.

Vanessa Souza disse...

Veio e já foi - ainda bem!

Nara Sales disse...

Foi-se...

Naia Mello disse...

o natal lembra a família e reflexões. Mas o poeta quis fazer um natal diferente, um natal a seu modo.

Maíra Souza disse...

"Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito" e ponto.

=)