Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol...


domingo, 12 de agosto de 2012

Primeiro, você tem nosso perfil?
Você usa olho de vidro, dentes postiços ou muleta, 
atadura ou gancho,
Peitos ou sexo de borracha,

Suturas mostrando faltar alguma coisa?
Não, não? Então
Como podemos lhe dar alguma coisa?
Pare de chorar.
Abra a sua mão.
Vazia? Vazia. Tome essa mão

A fim de enchê-la e disposta

A servir xícaras de chá e espantar enxaquecas
E fazer o que você mandar.
Casa com isso?
Tem garantia.

De que fechará seus olhinhos no final

E se dissolverá de aflição.
Fazemos novo estoque de sal.
Vejo que você está nu em pêlo.
Que tal este terno -

Preto e formal, até que não cai mal.

Casa com isso?
É à prova d'água, de estilhaço, à prova
De fogo e bombas no telhado.
Acredite, vão enterrá-lo com isso.


.

















Agora a sua cabeça, desculpe, é bem vazia.
Tenho o remédio para isso.
Vem cá, benzinho, saia já do armário.
Bem, o que você acha disso?
Branca como papel pode ser escrito

Mas em vinte e cinco anos será prata,

Em cinquenta, ouro.
Uma boneca de carne, onde quer que você olhe.
Sabe costurar, sabe cozinhar,
Sabe falar, falar, falar.

Funciona direito, não tem nenhum defeito.

Você tem um buraco, é uma compressa.
Você tem um olho, é uma imagem.
Meu garoto, é sua última chance.
Casa com isso, casa, casa com isso.

.


Poema: Sylvia Plath, O candidato.

Arte: René Magritte, Homenagem à Mack Sennett, 1934.

.

10 comentários:

Leo disse...

Poema de Sylvia Plath, inspirado no quadro Homenagem a Mack Sennett,
de René Magritte, o primeiro de um ciclo de poemas em que a autora,
partindo de uma pintura, aborda a abrangente e sedutora temática do
feminino.

Neste poema [...] o narrador é um executivo, um tipo de super-vendedor exigente. Ele quer ter certeza que o candidato para seu maravilhoso produto realmente necessita dele e que cuidará direito dele. Plath expõe o vazio do atual papel de esposa (que se vê reduzida a uma “coisa” inanimada).

Lilian disse...

Gente que virá robô e esquece que no peito bate sangue e carne.
Vou roubar pra minha estante.

Ale disse...

Realmente: inanimado!


Lindo!!!!!

JAN disse...

Digamos que certas mulheres são brinquedinhos de pilha... põe-se pilha quando a "criança" quer.
Um brinquedo sem alma.

Belíssimo post!

Abração
Jan

Fernanda disse...

A mulher tornou-se um produto nas mãos da sociedade.Uma máquina formulada para atender gostos exigentes.Para servir.Um estereótipo do vazio, da mesma essência contida numa boneca de porcelana, com a mesma praticidade que têm os eletrodomésticos.

Linda postagem, amado meu!

Beijos!!

Marcelo R. Rezende disse...

Sensacional. Adoro a escritora. Nunca leio nada completo, sempre uns trechos perdidos, mas ela é tão visceral, tão mulher, forte e decidida. Sofre e não esconde. As palavras dela nunca são sublinhadas, não tem entremeios. É tenaz. Forte como um murro.

Unknown disse...

Acabei chegando até o seu blog e gostei da maneira como você o fez. Os poemas não são suas, mas você coloca sua interpretação e um pouquinho de si em seu blog. Gostei!

Sobre o poema: sim, algumas vezes os casamentos se tornam assim, inanimados. Não só a mulher, mas o homem também se torna assim. E continuam por plena obrigação.

Volto mais vezes.
Um beijo, @pequenatiss.

Karlinha Ferreira disse...

Gostei...
Não conhecia a escritora, mas adorei o ponto de vista e de partida...

Beijo grande meu lindo... e estou de volta, viu?

Lara Mello disse...

Acho que muita gente merece um sermão desse, para crescer, para acordar..

Bju seu lindo!

=)

Juliana disse...

Lindo ! Algo que realmente emociona !