Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol...


segunda-feira, 21 de junho de 2010

Tinha eu quinze anos quando recebi a primeira lição:
já há vários dias que um irmão era dado como perdido.
Certa manhã, seriam umas quatro horas, a enfermeira
dele me acorda.

- O seu irmão te chama.
- Ele está mal?

Não obtenho resposta. Visto-me a toda pressa e apareço
junto dele. É com a voz de todos os dias que me fala:

- Gostaria de falar contigo antes de morrer. Eu vou morrer.

Uma crise nervosa crispa-o todo e obriga-o a calar-se.
Durante a crise diz que "não" com a mão. Não consigo
compreender o gesto. Imagino que a pobre criança se
recusa a aceitar a morte. Mas, quando a calma sobrevém,
explica-me:

- Não tenhas medo... Não sofro, não tenho dores, mas não
posso impedir, é meu corpo.

Não morremos, imaginamos temer a morte, tememos o inesperado,
a explosão, tememos a nós mesmos. A morte? Não, não há mais
morte quando a encontramos. O meu irmão disse-me:v"Não te
esqueças de escrever tudo isto..." Quando o corpo se desfaz,
o essencial aparece. O homem não passa de um entrelaçado de
relações. Só as relações contam para o homem.

(Saint Exupéry)

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