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O Amor toma banho de sol nos olhos dela,
O Amor percorre as meadas de suas madeixas,
O Amor se perde em cada um dos lábios dela
E mil beijos ali colhe e a li deixa;
Em cada parte dela, visível o Amor;
Mas, ah! não penetra o seu interior.
Lá dentro habitam os inimigos do Amor,
A malícia, a inconstância, a altiveza.
Assim a face da terra se enfeita em flor,
Em verdes vários e em tanta beleza,
Mas lá dentro estão o inferno e a escuridão,
Lá vivem os espíritos maus em danação.

Pois comigo, ai de mim, acontece o contrário:
A morte e a treva jazem em meus olhos em pranto,
Meu rosto pálido, em desespero, solitário,
É justamente o oposto do Amor, no entanto,
Ele, dentro de mim, como o tirano persa,
Mantém alta corte invisível, pois imersa.
Oh! toma meu coração, e então ficará
Teu íntimo com bom suprimento de amor,
E dá-me o teu, que está alegria tornará
Todo amorável meu eu exterior.
Mas que troca! Eu, revestido de feminina
Graça, e tu, interiormente, masculina.
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Poema: Abraham Cowley, A Troca.
Arte: Lasar Segall, Encontro, 1924.
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