Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol...


domingo, 8 de maio de 2011

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Sem fazer barulho abri a janela e sentei-me na cama, não ousava me mexer com medo que me ouvissem lá embaixo, lá fora às coisas também pareciam congeladas, paralisadas num propósito mútuo.



Nunca mais esses momentos serão possíveis para mim, mas ultimamente tenho sido muito hábil para captar, se ouvir com atenção, o som dos soluços que romperam quando me encontrei sozinho com mamãe, na realidade seu eco nunca cessou.

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Texto: Marcel Proust, Em busca do tempo perdido.
Arte: Edvard Munch, A mãe morta e a criança, 1900.

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35 comentários:

Leo disse...

O reflexo intimo e cruel das experiências pessoais de Munch. Na obra "A Mãe Morta e a Criança", de 1900, o pintor retrata o assistir atento e aterrorizado da morte da sua própria mãe vítima de tuberculose, teria ele apenas 5 anos. A tuberculose pulmonar fustigou toda a sua família, incluindo ele próprio, e acaba por estar presente em toda a sua obra.
É de reparar na semelhança do gesto da criança (sua irmã Sophie) ao gesto do homem em "O Grito". Para quem conhecer mais quadros de Munch, pode ainda reparar que alguns outros quadros que retratam a morte das suas irmãs e mãe, envolvem a cabeça do cadáver por uma almofada branca. A almofada branca, pormenor tão enaltecido por Munch, representa a pureza.

Re Gondim disse...

Lindo e muito triste!
Bjs e bom domingo pra tu ^^
xeiro
;)

Hellen Caroline disse...

Uau!
Triste realidade de Munch!
Digno de reflexão neste dia ,e muitos outros ;)
Leo,obrigada por sua visita.
'Um olhar sonhador' é muito interessante,confere mesmo com o título! Já sigo-te.Voltarei.
Beijos!

Ana Karina Bucciarelli disse...

Belíssima interlocução que você conseguiu tramar entre Proust e Munch. Esse livro, emblemático, marcou-me tanto que me lembro até de seu cheiro. Obrigada por fazer-nos ajoelhar diante da beleza da arte.

Suzana Guimarães disse...

Obrigada, Leo!

Hoje, só parei aqui, no teu jardim, foi irresistível não passar para ler e ver, sentir... Eu sabia que haveria de ter algo muito lindo pelo dia de hoje. Você é muito especial, menino do jardim... que cuida bem até das flores já sem perfume, desmanchadas, desfolhadas, esquecidas...

Um abraço,

Suzana/LILY

Tati Lemos disse...

Triste, mas belas palavras!

Beijo Leo

Winny Trindade disse...

Essas coisas nunca cessam. Permanecem sempre constantes dentro de nós.

Abraço meu., doce Leo.

lídia martins disse...

As palavras gotejam no papel. E pingo a pingo, vão formando um rio de tinta.


Quis encontrar palavras. Mas seu texto me fez escapar do presente e dar uma nova dimensão à minha existência. Tenho só estes olhos turvos e escuros, e esta face sulcada por lágrimas.



Te abraço com amor. E absurda nostalgia.

Sônia Cristina disse...

Muito triste e lindo.

É cruel demias uma criança...
deixa prá lá.

beijo

Rosamaria disse...

Intenso, triste e lindo, tudo ao mesmo tempo.

Aliás intensidade, deveria ser o adjetivo deste cantinho.

Sempre posts perfeitos pra refletir na vida, no próximo.

Eu gosto!

Beijão
Boa semana

Anônimo disse...

Curiosa e triste observação. Difícil perder alguém especial, quem dirá perder a família toda.

Um abraço.

Flor de Lótus disse...

Oi,Léo!Nossa quanto tempo!Saudades de passar aqui.
Quadro triste,perder a mãe deve ser a pior dor que se tem, acho que dor pior só a mãe que perde um filho,pois isso é a coisa mais antinatural que existe.
Beijoss

@febrandao disse...

Nossa, teu texto e essa imagem me despertaram a inspiração. MUITO GRATA! :D

Lívia Azzi disse...

Há modos e modos de se lidar com as perdas. A arte é também uma forma de e(x)ternizar a dor e transformá-la em beleza; nas palavras de Rubem Alves: "ostra feliz não faz pérola"... Em outras palavras, "a dor é inevitável. O sofrimento é opcional” (Carlos Drummond).

Quisera todos soubessem pintar a tristeza...

Beijos e carinhos, Leo querido!

Adoro-te!!

Lara Mello disse...

Nossa, que triste isso.. Sorte!

Déborah Arruda. disse...

Que lindo, Leo.
Pela sua síntese ali acima, a gente nota que de fato, a pureza só é possível mesmo de ser encontrada nas crianças. Mesmo que seja só pra falar de dor e tristeza.
Cada um , à seu modo, vai criando um mecanismo próprio de se adaptar às perdas.
Inevitável.
Bjs

Yohana Sanfer disse...

É sempre lindo vir aqui tb moço, pq sempre aprendo mais de arte, história, literatura e sensibilidade....adoro! Belo post! bjs e fico feliz por te agradar tb!

ErikaH Azzevedo disse...

Sabe que eu tb me remeti ao grito qdo olhei o quadro? Só aqui eu li o que vc escreveu a mais.

A dor é bem clara no quadro, a perda e o desespero....o texto idem.

Ecos de uma dor assim levamos por toda a vida...

Bjo meu ao menino das ricas escolhas.

Erikah

Sam. disse...

Leozitooo...postei correndo hj pela manhã, e deixei pra comentar agora a noite, por causa do trabalho, e confesso que estava curiosa com o comentário que fez sobre o seu post das mães...
Não tem como alguém não gostar, é de uma tristeza bonita, que nos faz pensar, refletir...a morte é tão certa e tão natural quanto a vida, e vê-la dessa forma ajuda a encararmos isso...
o que importa é eternizar quem se foi no coração, e aguardar até o momento de reencontrá-la denovo, em algum lugar!

Belíssima escolha fizeste, desde a obra em imagem, como a obra literária e até mesmo seu complemento no comentário.

Arrasou como sempre!

Um beijo, meu queridão!!

OceanoAzul.Sonhos disse...

Magnifica escolha, este pequeno intenso poema.
Estou seguindo o teu blog também, interessei-me pelo pouco que ainda li.
abraço
oa.s

Néia Lambert disse...

Todo artista necessita expressar o que lhe vai na alma.

Um abraço.

Anônimo disse...

Como a dor intensifica a arte, não?

As agonias dos artistas criam as obras e os deletes do público

Beijos Leo!

Lê Fernands disse...

lembranças eternas...




bjs, querido.

Karlinha Ferreira disse...

Brilhante escolha Lóozinho!

De fato triste...
Melancólico, verdadeiro e poético...


Beijo grande!

Patrícia Vicensotti disse...

Teu jeito ( diria até sem igual).Esse requinte de alma que vc possui...é isso!Você faz toda a diferença por aqui.Por tuas combinações sempre tão perfeitas,profundas,algumas indiretamente direcionadas...Por tudo o que acrescenta,o que faz refletir...o que nos faz levar.

Linda postagem,Leo.
~abraço!

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Esta é a forma que o artista encontra para tentar expurgar o sentimento duma dor que o persegue por toda a vida...

Tocou-me profundamente. Todos nós temos fantasmas, no mínimo idênticos.

Beijo

Nara Sales disse...

Quietude d'alma.

Lilian disse...

Triste dolorido e verdadeiro.
Saudade.
Beijo.

Daniel disse...

Tão brilhante e pessoal não é ? É incrivel como os sentimentos mexem com as pessoas. A obra é incrível e disso não resta qualquer dúvida que seja. Vejo o quadro e toda vez que observo a arte, me transfiro no mundo do artisto e imagino o que sentia quando pintava. Sinto as dores, alegrias e lágrimas, todas em uma grande mistura de emoção. O texto é incrível. O tempo perdido é uma busca idolatrada por tanta gente, muitas vezes eu também me vejo buscando um tempo que já passou, ou apenas um dia que se foi a qual gostei, ou um sonho que gostaria de sonhar de novo. Sempre, o passado. Mas os olhares não podem ser esquecidos a serem olhados como perspectivas de um futuro melhor. Adoro seu blog,
você é realmente um produtor artistico.

Dan

Marília Felix disse...

Hum...

Nem sei o que dizer dessa vez.
Texto muito aturado.
Aliás, o que não é intenso aqui? rs

Léo, você é pura intensidade!
Adoro as palavras que encontro aqui!

=)

Beijos Gigante!

Lilian disse...

Dolorido e intenso.
Saudade.
Beijo.

Anônimo disse...

"....Jamais desista de si mesmo.Jamais desista das pessoas que você ama. Jamais desista de ser feliz, pois a vida é um espectáculo imperdível, ainda que se apresentem dezenas de fatores a demonstrarem o contrário."
Fernando Pessoa

Ótimo fim de semana.

Doce beijo.

Anônimo disse...

Vim te desejar uma ótima tarde de domingo, Leo!

Com sorrisos

Unknown disse...

Lindo, triste e carregado de conteúdo.
Leo tb é cultura.

Beijo.

Luna Blanca disse...

Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio - um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio... Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.