Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol...


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

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Ainda bem que não te basta olhar para ver.



Eu dizia de mim para mim:
- Nem aqueles que, através das coisas, sabem tocar o nó divino que as liga umas às outras dispõem permanentemente desse poder. A alma está cheia de sono. A alma não exercitada o está ainda mais. Como esperar que eles sejam tocados pela revelação como que por um raio? Só deparam com o raio aqueles que nele encontram a solução. Porque esperavam esse rosto, tão construídos estavam para serem abrasados por ele. O mesmo se passa com aquele que, mediante o exercício da oração, eu tornei disponível para o amor. Fundei-o tão bem, tão bem, que certos sorrisos serão para eles como gládios. Mas outros, em compensação, não passam de joguete do desejo.
Sei agora que amar é reconhecer e conhecer o rosto lido através das coisas. O amor não passa de conhecimento dos deuses.
Uma verdadeira janela se te rasga naquele preciso instante em que te é dado apreender na sua unidade a propriedade, a escultura, o poema, o império, a mulher ou Deus, através da piedade dos homens. Mas é a morte do teu amor no momento em que não vês nessas realidades mais do que conjuntos. E, no entando, não mudou aquilo que te é dado pela via dos sentidos.
Urge, por isso, converter aqueles que vêm ter comigo olhando sem ver. Só nessa altura se iluminarão e se tornarão vastos. E só então ficarão nus.

Texto: Saint Exupéry
Arte: Marc Chagall

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