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RB diz: "Você teria coragem de admitir que fez a escolha errada?", em matéria de marido. Mas nada em mim se assusta ou se preocupa com a questão. Sinto-me bem com meu marido: gosto do seu calor e seu tamanho e seu estar-aqui, gosto de suas brincadeiras e histórias e das coisas que lê e do modo como adora pescar e andar e aprecia porcos e raposas e animais pequenos e é honesto, nem um pouco vaidoso ou alucinado pela fama, e como demonstra seu contentamento quando cozinho para ele e sua alegria quando faço algo ou um poema, um bolo, e como fica inquieto quando estou infeliz e quer fazer qualquer coisa para me ajudar a vencer as pelejas da alma e amadurecer com coragem e levesa filosófica. Amo seu cheiro gostoso e seu corpo que encaixa no meu como se tivessem feito na mesma fábrica de corpos, com este propósito. O que são apenas partes, distribuídas aqui e ali para este rapaz e aquele outro, fazendo com que eu goste deles em parte, está tudo reunido em meu marido. Portanto, não quero mais sair por aí procurando: não preciso procurar mais nada.
O que ele não tem? Um emprego fixo que dê sete mil por ano. Uma renda própria. Todas as coisas que um monte de dinheiro compra. Ele tem seu cérebro, seu calor, seu talento e amor pelo trabalho, mas não tem fortuna nem renda fixa. Que Horror.
Ele pode ganhar dinheiro e o fará, quando quiser e precisar. Ele não põe isso em primeiro lugar, apenas. Muitas outras coisas são mais importantes, para ele. Por que deveria pôr o dinheiro antes de tudo? Não vejo motivo.
Portanto, ele tem tudo o que eu posso desejar. Eu poderia ter tido dinheiro e homens com empregos fixos. Mas eles eram chatos, doentes, superficiais ou mimados. Eles me davam ânsia, a longo prazo. O que eu queria estava dentro da pessoa, algo capaz de me fazer sentir perfeitamente feliz ao seu lado, mesmo nua no Saara: alguém forte e amoroso de corpo e alma. Simples e rijo.
Então eu reconheci o que queria quando vi. Precisava, após treze longos anos sem homem capaz de receber meu amor por completo e me dar em troca um fluxo firme de amor, um homem que tornasse perfeito o círculo do amor e fizesse tudo ao meu lado. Encontrei um. Não precisei ceder ou aceitar um gentil vendedor de seguros careca ou um professor impotente ou um médico presunçoso idiota, como minha mãe disse que eu deveria. Agi conforme minhas convicções e casei-me com o único homem a quem poderia amar, e quero vê-lo fazer o que bem entender neste mundo, e quero cozinhar e ter filhos e escrever a seu lado. Eu fiz exatamente o que minha mãe disse para não fazer. Eu não cedi. E era, para todos os efeitos, feliz com ele, minha mãe pensava.
Isso deve deixar minha mãe atônita. Como posso ser feliz, tendo feito algo tão perigoso como seguir meu próprio coração e minha mente, apesar de seus conselhos experientes e a desaprovação de Mary-Ellen Chase e da fria censura dos olhos pragmáticos norte-americanos: Mas o que ele faz na vida, afinal? Ele vive, minha gente. É isso que ele faz.
Muito pouca gente faz isso hoje em dia. É arriscado demais. Para começar, é uma tremenda responsabilidade ser você mesmo. É muito mais fácil ser outra pessoa ou ninguém. Ou entregar a alma a deus feito Santa Teresa e dizer: Meu único temor é seguir meus próprios desejos. Faça isso por mim, ó Deus.
Trecho: Sylvia Plath, Diário.
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RB diz: "Você teria coragem de admitir que fez a escolha errada?", em matéria de marido. Mas nada em mim se assusta ou se preocupa com a questão. Sinto-me bem com meu marido: gosto do seu calor e seu tamanho e seu estar-aqui, gosto de suas brincadeiras e histórias e das coisas que lê e do modo como adora pescar e andar e aprecia porcos e raposas e animais pequenos e é honesto, nem um pouco vaidoso ou alucinado pela fama, e como demonstra seu contentamento quando cozinho para ele e sua alegria quando faço algo ou um poema, um bolo, e como fica inquieto quando estou infeliz e quer fazer qualquer coisa para me ajudar a vencer as pelejas da alma e amadurecer com coragem e levesa filosófica. Amo seu cheiro gostoso e seu corpo que encaixa no meu como se tivessem feito na mesma fábrica de corpos, com este propósito. O que são apenas partes, distribuídas aqui e ali para este rapaz e aquele outro, fazendo com que eu goste deles em parte, está tudo reunido em meu marido. Portanto, não quero mais sair por aí procurando: não preciso procurar mais nada.
O que ele não tem? Um emprego fixo que dê sete mil por ano. Uma renda própria. Todas as coisas que um monte de dinheiro compra. Ele tem seu cérebro, seu calor, seu talento e amor pelo trabalho, mas não tem fortuna nem renda fixa. Que Horror.
Ele pode ganhar dinheiro e o fará, quando quiser e precisar. Ele não põe isso em primeiro lugar, apenas. Muitas outras coisas são mais importantes, para ele. Por que deveria pôr o dinheiro antes de tudo? Não vejo motivo.
Portanto, ele tem tudo o que eu posso desejar. Eu poderia ter tido dinheiro e homens com empregos fixos. Mas eles eram chatos, doentes, superficiais ou mimados. Eles me davam ânsia, a longo prazo. O que eu queria estava dentro da pessoa, algo capaz de me fazer sentir perfeitamente feliz ao seu lado, mesmo nua no Saara: alguém forte e amoroso de corpo e alma. Simples e rijo.
Então eu reconheci o que queria quando vi. Precisava, após treze longos anos sem homem capaz de receber meu amor por completo e me dar em troca um fluxo firme de amor, um homem que tornasse perfeito o círculo do amor e fizesse tudo ao meu lado. Encontrei um. Não precisei ceder ou aceitar um gentil vendedor de seguros careca ou um professor impotente ou um médico presunçoso idiota, como minha mãe disse que eu deveria. Agi conforme minhas convicções e casei-me com o único homem a quem poderia amar, e quero vê-lo fazer o que bem entender neste mundo, e quero cozinhar e ter filhos e escrever a seu lado. Eu fiz exatamente o que minha mãe disse para não fazer. Eu não cedi. E era, para todos os efeitos, feliz com ele, minha mãe pensava.
Isso deve deixar minha mãe atônita. Como posso ser feliz, tendo feito algo tão perigoso como seguir meu próprio coração e minha mente, apesar de seus conselhos experientes e a desaprovação de Mary-Ellen Chase e da fria censura dos olhos pragmáticos norte-americanos: Mas o que ele faz na vida, afinal? Ele vive, minha gente. É isso que ele faz.
Muito pouca gente faz isso hoje em dia. É arriscado demais. Para começar, é uma tremenda responsabilidade ser você mesmo. É muito mais fácil ser outra pessoa ou ninguém. Ou entregar a alma a deus feito Santa Teresa e dizer: Meu único temor é seguir meus próprios desejos. Faça isso por mim, ó Deus.
Trecho: Sylvia Plath, Diário.
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